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A mostrar mensagens de junho, 2009

"Trabalhar mais e ganhar menos"

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Ouça-se José Miguel Júdice ( aqui ), que vem juntar a sua voz ao coro dos que ultimamente têm defendido a baixa de ordenados como meio de combate à crise. Pelo meio, ainda apelida esta geração (?) de "hedonista" e fala da necessidade de "adequação" (pela diminuição de vencimentos) ao mercado capitalista. Finalmente, menciona "formação" numa lógica que eu classificaria de surreal: como se maior formação académica significasse melhores condições de emprego. Bom, é ouvir ( aqui ). A redução dos ordenados é então uma medida eficaz e justa para fazer frente à crise? Mas antes, o que é isso de «crise», como começou, quem é responsável, afecta quem, beneficia quem?

Serões em família

Acabo de assistir ao tv show do professor Marcelo. Nada de muito complicado: apenas me quis antecipar. É sabido que o que ele diz ao domingo é notícia à segunda. Estive, portanto, a ouvir as notícias de amanhã. O programa foi elucidativo. Sendo aquele homem uma espécie de barómetro dos «analistas políticos», e sendo estes os fazedores da opinião dita pública, fiquei a saber com toda a certeza uma coisa: a governação do país não passa de um jogo, aliás jogado por poucos. Sempre os mesmos. E comentado por poucos. Sempre os mesmos.

Telegrama 031

031 Finalmente entendi: quem ganhou as Europeias foi o PSD, quem perdeu as Europeias foi o PS. Portugal e os portugueses foram apenas o recinto e a assistência desse jogo chamado Europeias.

Entre a espada e a parede

Para preservar um mínimo de dignidade e auto-estima, e para manter um nível aceitável de imunidade dos devaneios e caprichos da raça empregadora & seu Sistema, torna-se quase obrigatório não possuirmos qualquer bem material - como casa ou carro - que se constitua como um significativo encargo financeiro mensal a longo-prazo. Temos, enfim, de abdicar. Ou de uma coisa, ou de outra. (a menos que sejamos ricos.)

Do turismo

Aqui há dias, numa dessas manhãs carregadas de ameaçadoras nuvens cinzentas que, até pela altura do ano, tanto nos contrariaram, observei o que segue: na passadeira que fica ao fundo da calçadinha que desce da saída da estação de metro da Baixa-Chiado (perdoe-se-me a atabalhoada descrição), calhou ter lá parado, a obstruir a passagem, um autocarro de turismo, desses que trazem de série uma guia-intérprete com o ar mais enfastiado do mundo encastrada no lugar do pendura. Os peões, que já seguiam rabugentos para mais um dia de trabalho, mais rabugentos ficaram e como que explodiram de fúria com o motorista, que insultaram generosamente. Lá do alto, no primeiro andar do veículo, os turistas testemunhavam incrédulos a cena, não sem um certo trejeito de desilusão. Afinal de contas, onde estava a cidade soalheira e de gente descontraída que eles tinham comprado no balcão da agência do seu país de origem?

Prós & contras

Não só não faz sentido que o esforço seja colectivo e os lucros subsequentes sejam particulares («lucros» e não «benefícios», como tantas vezes se afirma), como não se deve (continuar a) fomentar, por mais indirectamente (e inconscientemente?) que seja, uma espécie de farsa social e cultural às escalas local e/ou nacional: muito simplesmente, os contribuintes-trabalhadores-eleitores têm muito com que se aborrecer, têm muitas razões para serem impacientes, têm muitos motivos para não colaborarem na - e eis o porquê de todo este discurso - "melhoria da hospitalidade" do destino Portugal. Sim, o «produto» e a «experiência» turísticos são matérias da vastidão de um oceano e não se restringem, nem por sombras, aos agentes turísticos dos ramos da hotelaria e da restauração (?), como também se afirmou no - e eis o quê do presente texto - Prós & Contras da passada segunda. Mas isso (repito) não deverá levar os decisores turísticos a defender, como se de uma obrigação patriótica s

Das conversas de café

Um grupo de rapazes conversava animadamente num café, já noite avançada. Em cima da mesa, a par de chávenas de café e copos de imperial vazios, estava o estado do Estado. Os vivas e os morras circulavam generosamente, bem como as causas maiores e as soluções totais. A certa altura, quando já o cansaço da repetição (amiúde se debatia o assunto) e a cerveja amoleciam o grupo, um dos rapazes, que até ali permanecera menos interventivo, tirou do bornal um livro, folheou-o num instante em busca duma página e, tendo encontrado o que procurava, começou a ler em voz alta *: "Aqui há anos, o Ricardo médico, muito a sério, influenciado pelo estilo e eficácia das operações de comandos, jurava que meia dúzia de homens, uns dez no máximo, bem treinados, podiam assaltar ali S. Bento, rajada aqui, bomba acolá, facada além, e num ápice raptar o Salazar [era ainda tempo dele], acabar com o fascismo, salvar o país, em suma." Todos em redor ouviam atentamente. E ele seguia lendo, impávido: &q

Oportunidades de carreira (1)

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(en) Fado

A priori, muito se me afigura matéria de gritante negação duma putativa alma-pátria, dum suposto substrato colectivo do nacional gentílico, duma pretensa Música Nacional Canção Portuguesa. Afinal de contas, não se trata de uma qualquer divina trindade, não obstante a coincidência numeral – melancolia de poeta, lamento de mulher, doze cordas num pranto. Trata-se, tão-só, de uma canção. Umazinha. O Fado. Mas eis que, no íntimo e mudo contraditório do pensamento, e nas ganas de refutar tamanhos méritos à fadista arte, género musical dentre tantos, uma ideia assomou harmoniosa sobre as demais. A saber (sintetizada), Seiscentos e cinquenta anos precisaram as gentes para se conhecerem. E isto dito assim de molde a contrariar o que, sabendo-se da aventada fundação do estilo, se poderia, inversamente, afirmar, isto é (sintetizando), Não bastam pouco mais de duzentos anos para se cantar um povo. Será então nestes meandros que a conversa afina, se me é permitida a expressão. Virá talvez a propós