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A mostrar mensagens de setembro, 2009

Legislativas dois mil e nove II

Desengane-se, caro telespectador, nada disto é feito para o maçar. Nada. E neste imenso nada tudo cabe: os programas eleitorais, os debates televisivos, as sondagens de intenções, os tempos de antena da rádio, os folhetos do metropolitano, os cartazes de beira de estrada, as entrevistas dos jornais, os fóruns de opiniões, os blogs dos candidatos, os sites dos partidos. Desengane-se, caro telespectador, de tudo isto (tamanho nada) nada foi concebido para o maçar. Aliás, se reparar bem (repare bem, caro telespectador) nada disto o maça. Antes pelo contrário. Desengane-se, caro telespectador, pois é com este sufocante nada, pois é justamente através deste omnipresente nada que, se atentar bem (atente bem) o senhor telespectador se não maça com coisa nenhuma. Desengane-se (já se desenganou?) não fosse tudo isto, não fossem os programas, os debates, os folhetos, as sondagens, os cartazes, os altifalantes, as entrevistas (pausa) e o período de campanha eleitoral seria (pausa) uma grande maça

Legislativas dois mil e nove I

Pegue-se na gorda maioria de patos bravos, chicos espertos & estafermos em geral que pululam por essas fronteiras adentro e se propagam com a certeza dum vírus, e dê-se-lhes primazia sobre a demais grei, a liderança-mãe do país Portugal e o trespasse dos seus recursos vários. Atribua-se-lhes, com força de lei, com peso de chumbo, a chefia das finanças públicas e da instrução das gerações vindouras. Garanta-se-lhes, com reservas poucas e de molde a que essas poucas valham de coisa nenhuma, a palavra derradeira na tomada de decisões sobre os nãos do trabalho e do ordenamento do território e sobre os sins da arte e do desporto. Consagre-se-lhes, em despacho oficial com selo branco, o Direito à Imbecilidade, à Defesa e Prática do Erro e da Falácia, ao Usufruto do Privilégio Desmesurado e Desmerecido e à Perpetuação dos Mil Desiquilíbrios. . E se problema de número se verificar, que se não interrompa a soberba marcha: dentre o esterco, estipulem-se graduações hierárquicas com a prodigal

Idiot box

Sentado no sofá, olho o televisor apagado, espelho negro, e vejo um sofá vazio. O ecrã mira-me com desprezo. Eu é que estou apagado, não é ele. Ele é que tem o comando, não eu. Eu sou ele, ele diz-me quem sou. . Ele é o gigante na jaula de vidro, como alguém disse, jaula que é diferente das outras, e nem tanto por ser de vidro, mas porque estende as suas correntes para além do seu perímetro, ou de dentro para fora. Enjaula enquanto diz que liberta. . Eu sou apenas mais um satélite no sistema solar que a sala corporiza. Tudo aqui gira em torno da televisão. A sala, lugar de convívio e refeições, deriva na sua órbita. O convívio, as refeições desenrolam-se debaixo da sua influência, por ela condicionados, por ela definidos. Tudo pulsa ao seu ritmo. . Aperto o telecomando. O espelho negro acorda, jorram cores e sons, a sala agita-se, mil sereias seduzem-me, cem poetas me embalam, fundo-me com as almofadas do sofá, gravito algemado às imagens. Subitamente feliz.

Telegrama 033

033 Tento a todo o custo esventrar o ridículo de gripes a & paranóias anexas. Fui contaminado.