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A mostrar mensagens de janeiro, 2010

Vagueações

Para poupar o dinheiro do bilhete do metropolitano andei a pé o dia inteiro. Recordo-me de me ter deparado em todas as ruas com os mesmos dois painéis publicitários, repetidos insanemente. Num deles uma mulher espantosamente bonita sorria para promover um desodorizante, noutro uma mulher espantosamente bonita sorria para promover um telefone móvel. Recordo-me igualmente de a certa altura ter notado, olhando em redor, que todas as mulheres eram espantosamente bonitas. Acho que pensei Que andarão estas a promover? Mas então principiei a aperceber-me de que havia também muitas mulheres espantosamente feias. Tomara por uma série de ruas paralelas onde poucas pessoas se deixavam ver e onde imperavam prédios há muito esquecidos. Imaginei comigo que estas ruas eram as mesmas que antes percorrera, mas no futuro, como se equipado somente com o meu inestimável par de ténis verdes houvera atravessado um vórtice temporal perdido nalguma dessas infinitas esquinas que dobrara. Imaginei que estas pes

Aprender a Empreender

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"A maioria das pessoas nunca poderia ter um carro ou uma casa se não recorresse ao crédito, é por isso que o crédito pode ser uma coisa boa." . À primeira vista, esta frase caracteriza-se por uma simplicidade infantil, quase inofensiva. A mensagem é simples. E, para todos os efeitos, verdadeira. A sua geometria básica e a total ausência de floreados são, contudo, enganadores. Basta uma segunda leitura para que, onde se lia uma referência vaga e algo inoperante ( "A maioria das pessoas nunca poderia ter..." ), releve afinal uma familiar nota de uniformização em que todos, a contragosto, nos revemos. Basta uma segunda leitura para que, onde residia uma risível infantilidade ( "...é por isso que o crédito pode ser uma coisa boa" ), perdure o paladar desagradável de um paternalismo sombrio e ecoe uma ríspida, quase marcial, ordem. A frase, por si, tem um toque musical que se insinua, que se entranha como um refrão fácil. É também rectilínea: não permite mais d

Lista de Bardamerdas a Abater em Nome do Sacrossanto e Indefectível Bom-Senso: instauração e primeira entrada.

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Por motivos já bastamente escalpelizados noutras ocasiões e desbastes, e em virtude da obscena sucessão de cenas da mais ajavardada pornografia político-moral e económica em pleno horário-nobre (não olvidando as perpetradas pela calada das noites), consideram os ora presentes signatários como sendo de inestimável presteza às gentes contemporâneas e vindouras precipitar a criação da doravante designada Lista de Bardamerdas a Abater em Nome do Sacrossanto e Indefectível Bom-Senso. Lido, ratificado e assinado. Aos 26 de Janeiro do ano de 2010 da era Cristã. . 1.º Réu: Jorge Coelho, 55 anos de idade, actual CEO da Mota-Engil, empresa de const rução civil. Chamado a responder pelo sucedido na auto-estrada número dezasseis ( d.d. A16), via rodoviária que faz a ligação entre a A9-CREL, em Sintra, e a A5, em Alcabideche, num investimento total de 256 milhões de euros, inaugurada há sensivelmente três meses e cuja concessão foi atribuída à Ascendi (empresa com participação maioritária dos grup

Quinta-feira, 21 de janeiro: entrevistas de emprego.

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11H00 Foi ontem (repito para mim mesmo: foi ontem. Repito várias vezes: foi ontem foi ontem foi ontem. Repito e repito porque - não sou capaz de perceber por que motivo - parece que foi há muito mais tempo. Dir-se-ia: uma eternidade). Entrei na sala (uma luz branca que despia, uma lente que ampliava). Ao fundo, vislumbrei o que me pareceu ser uma mulher. Uma voz de facto feminina disse o meu nome. Avancei (os meus passos ressoavam na sala). Detive-me numa fronteira invisível e senti um calor desconfortável. Sabia que era uma mulher que estava diante de mim, e, no entanto, inexplicavelmente, não lhe via as feições com clareza. Era um vulto na sombra da luz branca da sala. A mulher repetiu o meu nome, como quem, para evitar mal-entendidos desagradáveis, quer confirmar tudo muito bem antes de começar. Acho que murmurei qualquer coisa. Sem se levantar (a mulher estava sentada numa cadeira por trás de uma secretária cinzenta), a mulher começou: mediu-me o perímetro corporal, avaliou-me a pe

Obama: involução na continuidade

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1 Um ano passou debaixo da eleição estórica de Obama. Valerá a pena perguntar (?): que bóia, hoje, à tona desse espectáculo de luz e cores? 2 Voltemos à montagem (da autoria do Bruno Henriques) publicada neste penico aos 28 de Fevereiro de 2008, seis meses antes da formalização da candidatura presidencial de Obama pela Convenção do Partido Democrata e mais de dez meses antes da sua tomada de posse, a 4 de Janeiro de 2009. Cliquemos para ampliar. . 3 Em certa medida, sinto pelo Obama. O homem, até ver, falhou três promessas fulcrais da sua campanha: criação de um sistema nacional de Saúde norte-americano, participação real nos protocolos internacionais de redução das emissões de CO2 e encerramento da prisão de Guantánamo. (Falhou, sem dúvida. Mas tentou. E muito, com muita força. É como diz o povo: o que conta é a intenção.) 4 O 11 de Setembro desta presidência é o mesmo que o da administração anterior (a do Mau). Com efeito, é o «terrorismo internacional» (o das al qaedas e dos bin

Telegrama 041

041 No concurso para exercício de funções equiparadas a Assistente Operacional, na área de Auxílio Administrativo, da Câmara Municipal de Mafra, são onze (11) as vagas a preencher. Nem de propósito, na Prova de Conhecimentos entretanto já realizada (faltam ainda as entrevistas), houve onze (11) candidatas com nota máxima. E ainda há quem diga que não há coincidências. . lista de resultados aqui (.pdf)