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A mostrar mensagens de fevereiro, 2010

Jogadores do Sporting em quatro frases apenas

Proponho-me escrever quatro (4) frases acerca de cada um dos jogadores do plantel do Sporting. Interessantíssimo exercício de escrita criativa. . Rui Patrício É alto e canhoto - como o Petr Cech. Mas é um bocadito (...) pior que o checo. E ainda não levou nenhuma pancada forte na tola. Por outro lado, ainda é novo: tem tempo para isso tudo. Tiago Dói só de pensar nos idos em que a baliza do Sporting lhe estava entregue, em rotatividade com o Nélson. Às vezes, apetecia meter os dois na baliza ao mesmo tempo. Isso nunca foi feito, porém. E nada teve que ver com os regulamentos: acontece é que nem juntando os dois se obtinha um guardião que sossegasse os nervos dos adeptos. Ricardo Batista É novo. Formou-se no melhor campeonato do mundo. Tem historial de selecções jovens. Não joga. Pedro Silva Gostei quando atirou a medalha da Taça da Liga, pelo que de imprevisto a situação teve. Mas é ponto assente que «Defesa» e «Brasil» são duas palavras que, por assim dizer, não jogam. «Avançado»

Sonho

sentava-me em uma esplanada em um destes dias de invernia que vivemos e de café bebido (o primeiro) deixava-me ficar até que os ventos frios que asfixiam estas ruas que nos deram para percorrer me congelassem. (assim: a chávena vazia os sulcos secos a porcelana gasta e as pernas estendidas os pés em cruz.) a princípio ninguém daria conta (nem eu, bem entendido) mas o sol coado e frio rodava enfim desaparecia e então talvez alguém reparava. . melhor ainda: alguém se me juntava.

Do "Polvo", ou Como ceder ao agenda setting

O "esquema" (1) "em que está directamente envolvido o Governo para interferência no sector da comunicação social" (2), nomeadamente "o controlo da estação de televisão TVI" e "do jornal Público" com o fim de "proceder ao controlo das notícias publicadas com interferência na orientação editorial" (3) destes órgãos de imprensa, acerca do qual "tomou-se conhecimento e reuniram-se indícios consistentes de situações que, (...) a confirmarem-se nos seus contornos, representam um sério atropelo aos mais elementares princípios por que se devem nortear os Estados democráticos" (4), não deveria nunca ter saído da esfera judicial. Este «esquema» ou "plano" (5) não é de natureza política . Claro que, a partir do momento em que o Procurador-geral da República e o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça invalidam este caso no âmbito judicial, ele deixa de ser, formalmente, do âmbito judicial. Mas, como diz José António Sa

Um dia na vida de... José Sócrates

11H47 Acorda com o telemóvel a vibrar na mesa-de-cabeceira. Pigarreia enquanto se endireita na cama. Atende. "Estou? Não, de maneira nenhuma, já estou acordado desde as 8:30 da manhã". . 11H53 Enquanto urina, liga à secretária. "Está? Ouça, ligue à minha mãe e diga-lhe que hoje afinal não posso ir almoçar com ela. Diga-lhe que tenho uma reunião importante ou uma inauguração, sei lá". . 13H24 Entra no restaurante. Com uma vénia dramática, um empregado de colete preto e laço leva-o até uma mesa reservada. Pergunta-lhe como foi a manhã do senhor doutor. "Um stress. As pessoas nem imaginam como é a vida de um primeiro-ministro". . 15H36 Entra no gabinete. Atira-se para o cadeirão com enfado. Liga a um assessor. "Telefona-lhe e diz-lhe que se demita. Diz-lhe que depois logo se vê, mas que fique descansado que eu não me esqueço dele". . 17H22 De volta a casa, lancha uma carcaça com queijo e fiambre e um copo de leite com chocolate. Deixa o sofá da sala

Poça de água

Subitamente feliz, dei por mim a guiar o carro pela berma da estrada, onde algumas poças de água reflectiam com brilho as farripas brancas e agora inofensivas que vagueavam pelo céu. Entretinha-me a passar as rodas sobre as poças como se, em vez de rodas, calçasse galochas, como se, em vez de conduzir, caminhasse, e observava alegremente alheado o repuxo de água que subia para cá do pára-lamas, como, naquele dia em que a Avó Rosa me ofereceu umas galochas azuis, me divertia a saltitar de poça em poça a caminho da padaria e, depois, pelo largo da igreja até ao café do Carlos. Nesse dia, que, como hoje, estava de chuva, vira-a maravilhado enfiar-me as calças por dentro do cano alto das galochas. Para teres os pés sempre secos, explicou-me. Eu percebi exactamente o que ela quis dizer: para saltitares de poça em poça. Subitamente feliz, foi como se a Avó Rosa me tivesse acabado de calçar as galochas novas e mas tivesse posto por cima das calças para que eu andasse a saltitar de poça de águ

Curta-metragem: Cenário

Onde me leva esta carruagem?, e a mulher dos olhos sulcados de cinzento estranhou-me. Não fosse eu maluco, optou por não me dizer nem uma nem duas. Então abri o livro e retomei onde deixara: o herói aprontava o salto sobre um rio onde piranhas e jacarés lambiam os beiços na ânsia dos bifes das pernas e da barriga. O comboio arrancou e a cidade passou-me diante dos olhos entrecortada pelas janelas quadrangulares da composição como uma antiga fita de cinema mudo: ritmada e oníricamente. Sorri para a mulher dos olhos cansados. Ela deitou-me uma mão sôfrega às virilhas ou então fui eu a sonhar. Nisto já o herói deixara para trás as piranhas e os jacarés famintos e segurava nos braços de pedra o corpo leitoso de uma morena boa de carnes. O comboio parou num apeadeiro triste e riscado com um solavanco de orgasmo. A cidade era agora, na moldura metálica da janela quadrangular, uma fotografia de exposição: um adolescente magro ou de roupa larga jazia sentado no topo dum muro de cimento em brut

O vento não dá tréguas

O vento não dá tréguas. Aqui, sobre o vale que enquadra o vasto oceano, a natureza está mais próxima. Entre o meu corpo deitado debaixo dos lençóis e o vento, quase nada: um palmo de parede. Do lado de lá desta parede, a natureza: o vale largo que nasce no mar. Aqui, debaixo dos lençóis, num silêncio humano, numa mudez de fraco, escuto o poder da natureza. Os estores gemem. As telhas levantam. É isto um temporal. Do lado de cá deste silêncio, o medo: estou tenso e alerta. Recordo a calma prevista de amanhã, a calma que se seguirá a esta tormenta e que julgo conhecer de cor. E, no entanto, não a controlo, tal como não controlo este temporal. Pensando bem, a calma não é calma: é suspensão, é ameaça. O temporal, ao invés, é verdadeiro: é a verdade. Ambos fogem ao meu controlo. Apenas os nomeio, ou nem isso, que outros o fizeram antes de mim. (Esse baptismo estrangeiro traz também juízos doutros que tomo por meus antes mesmo de pensar acerca deles, e nesta passividade de nomes e conceitos

Lista de Bardamerdas a Abater em Nome do Sacrossanto e Indefectível Bom-Senso: 3ª entrada

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Em virtude das notícias trazidas a lume sob a infame parangona "Sangue só até segunda que vem" - que os ora presentes signatários desvalorizam, bem como ao seu conteúdo, na sua estética pretensamente irónica -, notícias as quais, com efeito, só evidenciam (aos olhos dos que vêm) a deplorável interpretação que o senhor Presidente do IPS faz do Direito de reunião e manifestação consagrado pelo artigo 45.º da Constituição que 1986 pariu, bem como do parcial servilismo dedicado à Ordem e aos seus executantes que tais declarações denunciam, não fosse isto um IP, Instituto Público; em virtude de ter deixado para tão tarde tão urgente apelo (a dois dias do limite), afigurando-se positivamente inverosímil que o mesmo não pudesse ter sido antecipado, e simplesmente não contemplando - por indecente - a hipótese de serem os dados ora publicados deliberadamente falsos com vista a, enfim, pressionar as dádivas ; em virtude ainda das pretéritas notícias relativas à discriminação de cidadã

Sangue só até segunda que vem

O Presidente do Instituto Português do Sangue, Gabriel de Olim, veio hoje dizer que segunda-feira acabam as reservas de sangue portuguesas. Medo. Questionado pela rádio pública sobre os porquês da dramática escassez, o Presidente Olim indicou, entre outros motivos (como a proliferação telenovelística de vampiros), a recente greve dos enfermeiros. Confrontados com esta intrigante afirmação, fomos investigar a fundo esta matéria. Colocámos diversos espiões no terreno (com nomes de código inspirados na fauna marítima, como Lula ou Taínha), recolhemos umas dúzias de escutas telefónicas (que, além do mais, se revelam sempre um frutuoso investimento) e realizámos nada menos que doze inquéritos telefónicos (que apresentam uma margem de erro média na casa dos 0,02%). Juntámos todas as pontas soltas e chegámos ao seguinte quadro: os maquievélicos Enfermeiros Portugueses, em obediência militar às ordens dos seus pérfidos Sindicatos (que se reúnem em caves iluminadas com tochas e sacrificam peque

Bairro do Amor

"Os proprietários dessa terra trabalhadora e desses bandos de negros eram ociosos e ávidos cavalheiros de cabeleira ao vento, que habitavam enormes casarões voltados para o rio - sempre com um pórtico pseudo grego de madeira de pinheiro branco. Um bom escravo custava-lhes mil dólares e não durava muito. Alguns cometiam a ingratidão de adoecer e morrer. Havia que tirar desses bens instáveis o maior rendimento. Por isso os tinham nos campos desde que rompia o sol até aos seus últimos raios; por isso exigiam das plantações uma colheita anual de algodão ou tabaco ou açúcar. A terra, fatigada e maltratada por essa cultura impaciente, ficava exausta em poucos anos: o deserto confuso e sujo de barro metia-se nas plantações." . Perdoe-se-me a maçadora - de tão comprida - citação. Bem sei que até as cinco mais sensuais linhas de texto são um fardo insuportavelmente pesado ao cabo da jornada diária de trabalho. Mas já dizia o Guy Debord que nada de importante se pode dizer ao público

Quarto minguante

Quando realizamos que o álcool é um analgésico e não um vício, uma ajuda e não uma camisa-de-forças, um miradouro e não um mau caminho, então sim, e finalmente, compreendemos . Não nos precipitemos, porém: compreender não implica saber explicar. Aliás, o mais certo será justamente a compreensão chegar até nós sozinha, como uma mulher insinuante que aborda os nossos restos mortais sepultados no tampo do balcão do bar à hora de fechar. A compreensão é atrevida, atira-nos logo Gosto de ti, borracho. Somos uma merda, e, se não for pelo estômago, é pelo ego que nos quilham, que nos arpoam o lombo. E a compreensão é sabida: sabe bem que isco lançar. Vem sozinha quando sozinhos estamos, quando asfixiamos de solidão, quando treslemos de tanta incerteza, quando transbordamos de tanto gin. Ferra logo Gosto de ti, borracho. E acrescenta Vi-te aqui sozinho e pensei. E segue dizendo não sei já o quê, que quando dei por mim era de manhã e estava estendido nuns lençóis brancos e ruços de pensão, tend

Carta de apresentação

Ex.mos senhores . Em resposta ao vosso anúncio de emprego venho por este meio declarar-me duzentos por cento disponível para tudo e mais alguma coisa no que ao supremo interesse do serviço diga respeito na medida em que os ex.mos senhores me informam que são uma empresa líder de mercado em franca expansão dinâmica e sólida e que além disso oferecem oportunidades de integração e de desenvolvimento de carreira e pacote salarial atractivo e tudo isto, porra! é i-rre-sis-tí-vel pá. . Li com atenção todos os requisitos exigidos e estou que punha as mãos no fogo em como tenho o perfil que os ex.mos senhores desejam e necessitam na medida em que tenho o sexo que querem os anos que querem os anos de escola que querem as línguas que querem a disponibilidade que quiserem e quanto à experiência profissional (ui) não me quero gabar mas isto de levar com uma empresa sólida pelo pacote salarial acima é cá com o je. . Junto em anexo o meu cê vê que é para o caso de quererem os ex.mos senhores ir caga

Lista de Bardamerdas a Abater em Nome do Sacrossanto e Indefectível Bom-Senso: 2ª entrada

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2.º Réu: Mário "O Superpolícia" Mendes, idade indeterminada, Secretário-geral do Sistema de Segurança Interna. Chamado a responder pelo acidente de viação ocorrido na Avenida da Liberdade, Lisboa, no passado dia 27 de Novembro de 2009, que envolveu uma segunda viatura de centenas de milhares de euros além daquela tripulada a mando do verdugo ora julgado, propriedade - a tal segunda viatura, bem entendido - da Assembleia da República. Apurou-se que os veículos circulavam a 120 km/h na dita avenida, cuja velocidade máxima autorizada ao cidadão anónimo se fixa, como é sabido, nos 50 km/h, e que não respeitaram um sinal vermelho. Deu-se portanto o choque entre os dois potentes carros e só por real acção divina se confinou o número de vítimas dele resultante ao número de ocupantes das duas viaturas, não se tendo (eis o milagre) alastrado o seu impacto aos transeuntes, não obstante, importa ressalvar, terem saído severamente machucados ambos os motoristas, os quais, como consensual

Lamento de um traidor

Os dias sucedem-se. Não há dias novos: só novos dias. A noite não passa de uma penumbra coada pelas frinchas cúmplices dos estores e, compassada pelo desfile infinito de luzes projectado diagonalmente nas paredes, não me deixa descansar. Os dias passam-se entre a mesa de comer sem fome e o sofá de ver televisão sem vontade. À cama retorno, ao ritmo dos restantes, sem sono. A vida afigura-se-me como uma tortura paciente e velada, e por isso mesmo mais exasperante. Peço-me desculpa vezes sem conta, na vã esperança de algum dia poder vir a recomeçar. No intervalo, duro.