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A mostrar mensagens de agosto, 2010

Condições mudas

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Comovo-me com o sofrimento alheio. Não falo daquele sofrimento extremo dos «dramas humanitários» a que as televisões gostam de dar cobertura, nem sequer daqueloutro sofrimento orgulhoso, beato e folclórico, que gosta de se exibir em público. Comove-me, isso sim, o sofrimento real. De resto, não concebo uma vida cheia sem a sua quota-parte de sofrimento real. O sofrimento real é o último reduto da beleza humana. Justamente, o Progresso pretende dar cabo desse reduto final, envolvendo-o num manto de maquilhagem, analgésicos e diversão. O Progresso fez da pressa e do barulho as traves-mestras do dia-a-dia. O mundo da felicidade são dois olhos borrados, os lábios empastados de batôn encarnado. "Sê feliz" é a Nova Ordem Mundial, que se nos impõe na forma de vontade íntima e espontânea. Não concebo que a felicidade possa ser alcançada sem que pelo meio haja tristeza. (não uma tristeza qualquer, mas uma tristeza franca e livre.) Dir-se-ia mesmo que a tristeza é o caminho para a feli

Os prisioneiros que prendem

Tenho ultimamente tomado especial atenção aos, chamemos-lhe assim, prisioneiros que prendem. Jeffrey Harbeson, o responsável máximo de Guantánamo, dizia aos jornalistas que "a história verdadeira" daquele sítio era a das "condições árduas" em que os militares norte-americanos ali trabalhavam - por oposição àquilo que ali conduzia a imprensa. Também eu queria saber das prisões sem acusação, das torturas à grande e à francesa, das zonas secretas e interditas, das visitas guiadas aos cenários montados ao jeito de Terezin. Mas não pude deixar de me interessar pelas palavras do almirante. Pela verdade que continham. Recordei-me do que pensei quando li uma crónica do Eduardo Cintra Torres, "Ronaldo e o fim da vida privada". A crítica à cultura papparazzi que ali era feita tinha nos jornalistas que cercavam a casa de férias do craque os derradeiros executantes de um crime. E, no entanto, aquela gente vergava-se, simplesmente, naturalmente, aos ditâmes das chefia

Obamamania

De há um ano a esta parte, mais coisa menos coisa, Obama é um dos produtos que mais vende. Obama é um sucesso de vendas. Aprecio particularmente o à-vontade com que Obama se vende em programas televisivos feitos para mulheres ( o alvo por excelência), bem como a leveza com que o seu franchising corre mundo: candidatos e partidos políticos a concurso (é no período de namoro que essa gente mais se deve obamar ) incarnam o modo de comunicar e de parecer do President, as suas frases-chave, a sua pose, os seus temas.