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A mostrar mensagens de janeiro, 2021

A dinâmica mediática da pandemia: uma síntese

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A dinâmica mediática da pandemia tem sido esta: manter o lume vivo, provocar uma nova restrição. Quando, nos idos da Primavera passada, se começou a falar do uso generalizado e obrigatório de máscara, ficou de imediato no ar a ideia de que, quando aquela pseudo-causa fosse ganha, outra se lhe seguiria. Assim foi, assim tem sido. E não há sinais de abrandamento. 🜨 Agora que, há poucos dias, a pseudo-causa do fecho das escolas foi alcançada, imediatamente poluem a opinião pública uma série de outras medidas que urge implementar. Nos dias que correm, duas ganham relevo: o fecho de fronteiras (uma espécie de encore) e o uso obrigatório de máscaras FFP2. A experiência diz-nos que, sobretudo num caso como o das máscaras, será talvez apenas uma questão de tempo até que essa norma seja importada. De facto, Alemanha e Áustria já decretaram essa medida e muitos há que olham para aqueles países com uma admiração sem limites. Como já aqui apontámos, é o relativo falhanço das medidas de combate à

O funeral de Maradona

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Diego Maradona faleceu no dia 25 de Novembro do ano passado. A cerimónia fúnebre do homem que era muito mais do que um jogador de futebol para o povo argentino (e não só) mobilizou, mesmo em tempos de pandemia, milhares de pessoas. clique para ampliar tirado daqui Quando vi imagens como esta na televisão, pensei, como um autómato: -  Os números covid vão disparar. Ocorreu-me ir verificar esses números. Sublinhei toscamente a semana em que ocorreu o funeral. Cada barra representa uma semana. clique para ampliar fonte: esta Fomo-nos habituando ao período-tipo de 14 dias após presumível contágio para o desenvolvimento da doença, o qual está consagrado na recomendação geral de isolamento profilático para aqueles que tiveram um contacto de risco. Existe também uma recomendação geral de isolamento e monitorização dos sintomas por 10 dias para os casos em que há já um teste positivo ao novo coronavírus, findos os quais, e caso o sujeito esteja assintomático, um novo teste negativo determina a

O supérfluo. A culpa

Estabeleceu-se uma relação perfeita e absoluta de causa-consequência em torno de dois termos: «movimentação humana» & «novos infectados com coronavírus». A relação é de tal maneira perfeita e absoluta que, no discurso publicado, um e outro termos se confundem. São sinónimos. Associa-se-lhes uma sequência directa, tão intuitiva e natural que dispensa, dir-se-ia, explicações: +movimentação humana = +novos infectados com coronavírus = +internamentos hospitalares = +mortos. Esta é a sequência-base que determina, com o peso do unanimismo a que dá corpo, que os movimentos humanos (todos) devem, porque devem , ser reduzidos a qualquer custo. Todos. A qualquer custo. A ordem, difundida a martelo, é linear e não autoriza desvios: os seres humanos devem imobilizar-se. Claro que isto não é realista. "A vida não pode parar", ouve-se. Introduz-se, então, mais uma orientação de fundo: como não se pode parar tudo , pára-se só o que não é essencial ,  o que é supérfluo. Como é que se de

Mor(t)alidade

A obrigatoriedade do uso de máscara – que, mais do que de enquadramento técnico-legal, é de substrato moral – é uma plataforma de acção sobre o Outro de enorme potência. Identificar o pecado alheio é fácil e imediato; e vai sendo crescente o poder efectivo, o ascendente moral, a legitimação pragmática para dar o passo seguinte: chamar o incauto à razão e, sobretudo, ao castigo. O substrato moral da obrigatoriedade do uso de máscara tem um inequívoco fundo legal e sanitário. Estabeleceu-se que, em certas circunstâncias, o uso de máscara (o correcto, pelo menos) traz benefícios no controlo da propagação viral. Mais marcante que esta dimensão técnica é, contudo, a sua dimensão legal – a consagração na lei. Tornar um dado comportamento obrigatório (ou proibido) por lei parece inspirar em alguns espíritos uma percepção dogmática daquilo que é, é necessário frisar, um produto histórico. Mas o que parece ser essencial a esta qualidade moral da obrigatoriedade do uso de máscara é a noção g