O funeral de Maradona

Diego Maradona faleceu no dia 25 de Novembro do ano passado. A cerimónia fúnebre do homem que era muito mais do que um jogador de futebol para o povo argentino (e não só) mobilizou, mesmo em tempos de pandemia, milhares de pessoas.

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Quando vi imagens como esta na televisão, pensei, como um autómato:
Os números covid vão disparar.

Ocorreu-me ir verificar esses números. Sublinhei toscamente a semana em que ocorreu o funeral. Cada barra representa uma semana.

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Fomo-nos habituando ao período-tipo de 14 dias após presumível contágio para o desenvolvimento da doença, o qual está consagrado na recomendação geral de isolamento profilático para aqueles que tiveram um contacto de risco. Existe também uma recomendação geral de isolamento e monitorização dos sintomas por 10 dias para os casos em que há já um teste positivo ao novo coronavírus, findos os quais, e caso o sujeito esteja assintomático, um novo teste negativo determina a alta clínica. A um outro nível, do que me foi descrito, o primeiro rastreio da linha SNS24 visa identificar aquelas pessoas que, tendo tido um contacto de risco nas últimas 48 horas, desenvolveram ou não sintomas da doença.

Falamos sempre, portanto, de períodos de evolução que se restringem genericamente às duas semanas. Naturalmente que se trata apenas de tempos típicos, de orientações genéricas, de normas que, aliás, variam de país para país e, mais do que isso, variam ao longo do tempo, à medida que o conhecimento científico se constrói e actualiza. Seja como for, olhando ao gráfico acima, tirado do site oficial da OMS, só à quinta semana após o funeral de Maradona se verificou um retrocesso para níveis próximos dos dessa penúltima semana de Novembro. De resto, a segunda semana após este evento registou o mais baixo número de novos casos desde meados de Julho. Já nos números dos óbitos registados, só na semana passada (segunda semana de Janeiro de 2021) é que os valores regrediram aos valores daquela semana de 23 a 29 de Novembro.
(Felizmente, escusado será dizer.)

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Bem sei que não disponho de dados nenhuns que não os números (cegos e descontextualizados) dos novos casos diagnosticados e das mortes associadas à covid-19. Suponho também que a progressão de uma doença contagiosa não é linear e homogénea. Mas não deixa de ser a todos os títulos incompreensível, face ao discurso que determinou e condicionou as nossas vidas nos últimos 10 meses, que um tamanho ajuntamento de pessoas, um ajuntamento que, pela sua dimensão, pela sua dinâmica, por tudo o que envolveu, terá sido porventura único de Março de 2020 até este dia, não se tenha traduzido num aumento visível, exponencial mesmo, dentro dos prazos consagrados, dos números de novos casos e de óbitos.

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