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A mostrar mensagens de julho, 2008

Uivando

Quando foi morto, nas linhas finais do Ensaio, o cão uivava. Uivaria ele de tristeza? de revolta? de raiva? quem nos poderia responder senão o próprio, que, não bastasse ter sido morto, nunca existiu. O que o cão - que, aos nossos ouvidos cegos, não fala - disse à restante matilha que se fizesse não foi uivo por mero acaso. O uivo é som longo, arripiante. Uiva-se de olhos cerrados, de boca apontada ao alto. Além do mais poético, serve para reunir a matilha e outros semelhantes cães, e parece trazer sempre uma nota de inominável desgosto e um sub-tom de invencível resignação. Uivemos, e façamos disso a obra que nos eternizará, parece dizer-me o ensaísta - seja por o querer ouvir, seja por de facto mo estar ele dizendo. Quem sabe, respondo-lhe, pegando no caso que nos conta, não engendraremos um meio de evitar em tempos futuros os derradeiros tiros, até aos quais a esperança imperava. Mas, enfim, se era de esperança que se tratava, o fado estava traçado, pois ainda que sendo, de todas, a