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A mostrar mensagens de novembro, 2009

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Das pessoas

Dislates mais ou menos jactantes a propósito duma pretensa genética pátria, em que se repisam e se requentam acriticamente chavões relativos a mais das vezes a situações particulares, assim ilegítima e inutilmemente nacionalizadas - é coisa que me aborrece solenemente. Mas piora quando se fala "das pessoas". "As pessoas" - portuguesas, entenda-se - "não participam" ou "as pessoas não reclamam" ou "as pessoas não pensam"; e por aí adiante. A equação exclui explícitamente o eu, iliba-o e, em certa medida, diviniza-o: como se pairasse, sábio contemplador, sobre o vulgo, pequena gente pequena que "às vezes, até me envergonham de ser portuguesa" (na última ocasião em que assisti a este discurso-tipo tomava a palavra uma mulher, aliás professora de Língua Portuguesa do 3.º ciclo, se é que este dado acrescenta inteligência à conversa). Tudo isto me aborrece muito, de molde que vou alternando o mais indiferente dos bocejos com o espin

De que falamos quando falamos de leitura?

A pergunta foi-nos colocada num interessante seminário da responsabilidade de um não menos interessante José Fanha (a ideia é simples: falar de leitura entre as 19h e as 21h das quartas-feiras de Novembro). Na hora, ocorreu-me imediatemente responder que falamos de nós próprios, do que pensamos e sentimos. No fim de contas, a leitura é - ultrapassadas as duas ou três respostas básicas iniciais - assunto de monta, coisa grande e profunda. Uma resposta reflectida a esta questão torna-se muito rapidamente num discurso do eu, num enunciar de gostos íntimos, de hábitos mais ou menos secretos, de convulsões que têm lugar debaixo da pele. Mas responder que ao falarmos de leitura estaremos falando, isso sim, de nós mesmos é afirmação cujo sumo muito rapidamente se consome. Com efeito, que outra coisa fazemos quando falamos? Esse é, aliás, um dos nossos maiores poderes. Assim o queiramos, e, através de uma selecção bem calculada de palavras e silêncios, apenas daremos aos outros - como base de

Bloco de notas: Garcia´s tribute

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Oculta face

Faces ocultas movem-se nas sombras. Aos sentidos cingidos pelo arame farpado da telecomunicação e do trabalho, tais movimentos de bastidores afiguram-se cada vez mais como coisa nenhuma. A repetição provoca memorização, diz-se. No caso, a repetição provoca cansaço, um cansaço que se assemelha justamente ao avesso da memória. Outras faces ocultas há muito caíram no olvido de todo um país, ou no mínimo tomaram feições vagas e imprecisas. Confundem-se nomes, caras e ligações numa memória colectiva adulterada que simultaneamente enfraquece no seu núcleo a contestação e imuniza onde convém esses criminosos. Nada neste fim é distinto daquele princípio. A trama é circular. Talvez por isso nos entonteça. Talvez assim nos cerque.

Telegrama 038

038 Quando leio no Editorial do Público de ontem que "as Torres Gémeas de Nova Iorque substituíram na mente das gerações mais jovens as imagens felizes de Berlim [no dia 9 de Novembro de 1989]", pergunto-me: qual será a mentira histórica que jaz soterrada sob os escombros do Muro?

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sou eu o álibi do meu suicídio não fiz juramento digo a verdade que quiser sou o assassino da pessoa que digo ser minha investigo o crime colho pistas apago pistas despisto-me se me persigo persigo-me pelas ruas por ruas que não conheço e perco-me sem nunca sair do sítio numa ânsia num desassossego numa saudade daquele eu que morreu às minhas mãos porque sabia demais viu-me a cara tive que o limpar

Telegrama 037

037 Quando penso em trabalho, penso na hora em que saio. Outros pensarão porventura na hora em que entram.

Telegrama 036

036 A construção da Sociedade do Conhecimento e da Informação deve basear-se no conhecimento e na informação.

Aqui

E o que faz Sou contabilista Não me fiz entender, perguntei-lhe o que faz, não o que é Julgo que foi isso que lhe respondi Pareceu-me ouvir sou contabilista E pareceu-lhe bem, foi isso mesmo que eu disse Então está a ver, disse-me o que é, não o que faz Compreendo Por favor não me leve a mal a insistência Concerteza que não, acho aliás interessante esse seu rigor nas palavras Bem sei que a língua não se compadece destes rigores, são apenas manias Mais facilmente lhes chamaria agasalhos do que manias Agasalhos Sim, para os rigores deste inverno da língua Estou a ver que também aprecia os jogos de palavras Vejo-me é muitas vezes sem parceiro É curioso como a graça duma língua está muitas vezes nas suas ambiguidades Aprecio muito essa palavra, graça Escolhi-a cuidadosamente Mas concordo consigo, se bem percebi o que quis dizer Fui talvez ambíguo Não tivesse sido desde início e não chegaríamos aqui Aqui Sim. Aqui . Diz-me então que é contabilista Não posso dizer que seja O que me pode dize

Para o Zé de Kuba

A bonança da desventura faz lembrar que os dias passados ao passado devem a sua glória, a chuva nostálgica que os incensa é o pilar canhoto em que se sustenta a nossa carência, nosso abrigo . . daqui

De Sem Prego

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"A economia fez o homem à imagem da mercadoria, atribuindo-lhe um valor de uso e um valor de troca. Um sustenta-o a ele e aos seus semelhantes, o outro fixa-lhe um preço, não em conformidade com aquilo que produza mas com a quantidade de bens de que se aproprie." Raoul Vaneigem, A Economia Parasitária , 1999. . . A potente castração da criatividade vital administrada pelo trabalho assalariado abate-se sobre nós de forma especialmente cruel nos períodos de desemprego. Negativo do trabalho, o desemprego isola-nos e inutiliza-nos, na justa medida daquilo que esta mesma sociedade do trabalho define como isolamento e inutilidade. Com efeito, finda a escolaridade, qualquer período em que nos encontremos desvinculados de um compromisso profissional traz no nome o indisfarçável cunho da ordem vigente. Senão vejamos, do ponto de vista social, demográfico e político, o que é um não-estudante que não trabalha? Um desempregado . A locução não podia ser mais expressiva. Mas procuremos sin