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A mostrar mensagens de agosto, 2021

Especialistas e farmacêuticas: uma relação curiosa

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O Expresso noticia que Filipe Froes, consultor da DGS, coordenador do Gabinete de Crise contra a COVID-19 da Ordem dos Médicos e membro do Conselho Nacional de Saúde Pública, "recebeu €385 mil das farmacêuticas desde 2013" .  O semanário nota que a Pfizer e a AstraZeneca, duas destacadas fabricantes de vacinas contra a COVID-19, se contam entre o grupo de farmacêuticas que financiaram o especialista. E especifica: "Só em 2020 e 2021, por exemplo, Froes recebeu da Pfizer €26.407 (...)". Estes dados foram retirados da plataforma online «Transparência e Publicidade», do Infarmed, acessível aqui . Fui lá dar uma olhada. Escrevi "Pfizer" e cliquei «Pesquisar». Lá está, logo na primeira página de 2021, uma referência a Froes: (clique para ampliar) Não revi os números avançados pelo Expresso , mas são várias as declarações que envolvem Filipe Froes. Além dos já referidos, outro agente que declara pagamentos a este especialista é a Gilead Sciences, fabricante do

A vacinação dos 12-15: cronologia de um processo político. Quer dizer, técnico

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20 de Julho: subentende-se da «libertação» anunciada pelo primeiro-ministro que o plano de vacinação abarca as crianças entre os 12 e os 15 anos, apesar de não haver ainda orientação da DGS nesse sentido. 21 de Julho: o primeiro-ministro diz que está tudo pronto para cumprir a meta da vacinação, mas que qualquer decisão que venha da DGS, nomeadamente contra a vacinação das crianças dos 12-15 anos, é para respeitar. Uns dias mais tarde, o vice-almirante dá especificamente a saber que a task force está pronta para vacinar todas as crianças dessa faixa etária antes do início das aulas. Um dia ou dois depois, o primeiro-ministro faz eco da promessa na AR. Acrescenta ainda, com um sorriso, que não se antecipará à decisão da DGS. 30 de Julho: uma semana depois de ser veiculada essa mesmíssima decisão, a DGS anuncia que a vacinação para esta faixa etária é recomendada apenas para casos de crianças que tenham certas comorbilidades associadas. No dia seguinte, numa viagem ao Brasil, o president

Uma peste mediática

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Reli recentemente A Peste , de Camus. Impulsos epocais, enfim. Seja como for, não foi tempo perdido; reler é uma virtude e um prazer e A Peste é uma narrativa extraordinária. Parece-me relativamente inevitável identificar ali uma série de lógicas e acontecimentos que marcaram o nosso quotidiano nos últimos 500 dias, mais coisa menos coisa. Duas coisas há, contudo, que separam a narrativa camuniana da narrativa covidiana. “Duas” – escusado será dizer que não são só duas. Mas estas duas parecem-me capitais, sobretudo para compreendermos o último ano e meio que vivemos (até porque dificilmente acrescentarão o que quer que seja à leitura do texto de Camus). São elas as doenças propriamente ditas e os media . A Peste (spoiler alert) narra um evento de peste. “A” peste. Assustadoramente fulminante, letal, horrivelmente dolorosa, símbolo absoluto da Morte. A COVID-19 é, numa palavra, nada disto. A narrativa de Camus não contempla os media . O lado socio-comunicacional da epidemia é, no m