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A mostrar mensagens de setembro, 2020

Institucionalizar a guetização

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Foi-me dada a ver uma pequena peça jornalística de Paulo Bastos e David Félix, enviados da TVI a Madrid, intitulada "Bem-vindos ao Guetto" ( link ). Ali se reporta uma nova realidade na capital espanhola: entre o bairro de Puente de Vallecas e a restante cidade, debaixo de um desses hediondos viadutos que rasgam e marcam a paisagem urbana, foi montado um posto fronteiriço. Nesse ponto, policiam-se as intenções e os motivos dos que pretendem passar. A pé, no transporte individual, no transporte público - todos têm de apresentar um salvo-conduto. Sem o documento que atesta que ali passam pelos porquês legalmente autorizados, além de simplesmente impedidos de o fazer, todos serão multados. Estamos perante a institucionalização da guetização de um bairro que alberga cerca de 235 mil pessoas. Em Portugal ainda não se chegou a este estádio burocrático. Ainda.   ◼ Em Maio, Johan Giesecke, responsável sanitário sueco, alertava, em entrevista ao Público : "a maior ameaça desta ep

Mitos da covid-19

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Desde o início do ano que tenho visitado, com inusitada frequência, os sites da DGS e da OMS. Sinais dos tempos, suponho. Seja como for, estas visitas resultam sempre, claro, em leituras de alevantado interesse cultural e recreativo. Nem outra coisa seria de esperar. Mas isto é outro nível: Esta sub-página do site da OMS ( link ) foi criada com o objectivo de desmistificar uma série de coisas que, aparentemente, foram sendo veiculadas a propósito deste rebuliço da covid-19. É de presumir, uma vez que a OMS se dá ao trabalho de os desmontar e desmentir, que estes mitos conheceram uma importante fortuna e difusão um pouco por todo o Mundo ao longo dos últimos meses. Lê-los à luz desta assumpção, e tendo como pano de fundo que vivemos no século XXI d. C. e portanto a uma valente distância de higiene dos rebarbativos e tenebrosos idos da Idade Média, dá-lhes um brilho especial. Há de tudo um pouco. Sem que estejam assim organizados, os Mitos versam quatro grandes temas: propagação & c

Tunnel vision

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Há seis meses atrás era anunciada a primeira morte por covid-19 em Portugal. Esse fúnebre marco surgiu como a espectacular apoteose de semanas de um crescendo de pânico e histeria mediático-colectivos. As notícias chegadas de Itália, primeiro, e Espanha, depois, de par com uma tremenda avalanche de pseudo-informação relativa ao novo coronavírus, foram um combustível suficientemente potente - e o fecho-de-tudo foi ganhando a forma de algo inadiável & incontornável. Recordo-me, por exemplo, de ter tido um colega de trabalho a dizer-me que o actual executivo governamental teria de, no futuro, responder pelos "milhares de mortes" que aí vinham - e isto simplesmente porque não tinha, nessa tarde, dado a esperada ordem de fecho das escolas. Essa delicada decisão apenas viria a ser tomada na tarde do dia seguinte. Mas vinte e quatro horas, nos idos de Março, tinham o peso de anos. Já então se impunha, de forma bastante evidente, a dinâmica que marca decisivamente toda a sorte de