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A mostrar mensagens de dezembro, 2009

Eu, livre...!

Mas se não queres não vás, disse-te eu a propósito de qualquer coisa sem importância. Como se eu fosse livre.

Telegrama 040

040 Sou pela violência, afinal: depois de regozijar com a caricata intentona sapateira contra o Bush, eis que deliro com o jab de direita em cheio no focinho do filho-da-puta do Berlusconi! (aqui)

A propósito de Copenhaga

1 Nunca os governos nos deram provas de boa-fé. Nunca as lideranças se mostraram bem-intencionadas. Nunca as decisões políticas e económicas se revelaram desinteressadas. Estarão agora verdadeiramente preocupados com os impactos ambientais e sociais devidos ao «aquecimento global»? De resto, o cenário de risco propriamente dito - que tem servido de ponto de partida e de escala a toda a acção diplomática, bem como de sustentação à generosa canalização de verbas - tem um ímpeto sobretudo propagandístico, impressionista, televisivo; e não tanto uma base científica, desapaixonada e objectiva. 2 Muitos foram os meios através dos quais os países mais industrializados perpetuaram a sua posição dominante; um dos mais determinantes terá sido justamente o recurso exaustivo a indústrias ultra-poluentes. Isto leva-nos a um ponto (que corro o risco de simplificar em demasia): quem nos legou tão devassado ar? Não terá sido Madagáscar; sequer Portugal. Quem foi então? 3 Em boa medida, os Estados

Do «não» irlandês (ainda, e com atraso)

(Acontece que publico isto com, bem à vontade, ano e meio de atraso. Esqueci-me, pá!) . Isto da democracia é do caraças. Não basta fazer de conta que, numa mágica assunção, escadote do sufrágio dito universal acima, o poder constitucionalmente popular se transfira - vuush - para os seus fiéis representantes eleitos. É preciso que a grei vote bem . Doutro modo, a democracia "fica em perigo". Ouço a Antena Aberta, janela de participação popular numa rádio nacional. Fala neste momento uma "especialista em política internacional", a qual, conforme disse a locutora do programa, "vai ajudar os ouvintes a formarem a sua opinião". Diz a senhora especialista que isto do «não» irlandês também retrata "a falta de informação da generalidade dos europeus, no caso, os irlandeses". E achega que "esta atitude de constante impasse num contexto de crise mundial é muito prejudicial para a governabilidade da Europa". Lá está o que eu dizia: não só os euro

30, 35 minutos

E alguém ao telefone me diz - 30, 35 minutos e estamos aí, OK, senhor André Campos? Aquiesço com um abanar de cabeça (do outro lado da linha hão-de ter pensado que, enfim, quem cala consente) enquanto penso - 30, 35 minutos de vida a valer, ou de felicidade-quasi, que o resto do dia será de infinita tristeza, ou de puta incerteza. Isto havia de ser tudo assim. Olhe, tem 30, 35 minutinhos até não se sabe o quê, trate portanto de os gozar, OK, senhor André Campos? Destarte, bastante facilitados ficariam aos nossos olhos os processos burocráticos e administrativos do estar vivendo a que maximamente somos autorizados pelos deuses que, ó concretíssimo Ricardo Reis, são feitos à nossa imagem. Talvez por isso se revelem tamanhos cretinos. Mas nisto já perdi uns cinco preciosos minutos. Revisito num ápice a tabuada do ratinho da infância (que passou e não ficou, que nada ou nada-quase deixou e que, benditos sejam os deuses, nunca regressará) e calculo que me restam na melhor das hipóteses seis

o homem que comeu o estômago

cansado da fome, o homem decidiu-se a comer o próprio estômago. se comer o estômago, explica, não só mato a fome que ora sinto como a que infinitamente tornaria. uma voz feminina (de avental) aproxima-se; e, com o desembaraço do dizer de cor, atira: dê-mo cá que lho frito, o senhor gosta de iscas, não gosta?, pois deixe que lhe apronto um petisco, ó, daqui. entre o homem e a feminina voz jaz uma frigideira onde um pé de louro e três dentes de alho assam num inferno de óleo e margarina. sobre a frigideira, a voz feminina esmera-se, insinua-se; e acrescenta, estranhamente sedutora: diz que os olhos também comem. perfeito, pensa o homem, matarei igualmente para todo o sempre o apetite da vista. e alto: isso bem passado, não tenha pressa.

Telegrama 039

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039 Nem só de pias casas, relatórios militares sexed up e mensalões se faz o nosso arredondado mundo globalizado: esse da democracia e do estado de direito. Também há a prisão do Polanski: .

Apontamento

É muito difícil sustentar o fim do trabalho assalariado. . Isto é um labirinto visto de dentro. Nada existe além destas paredes, para lá destas paredes espelhadas. Ao fundo de uma curva, nova curva; nova curva, novo espelho. E eu e tu reflectidos neste labirinto de espelhos. O já de si curto horizonte é assim encurtado: no horizonte nada há - à mostra - além do nós-reflectido, do nós-virtual, do nós que olhamos daqui e do nós que nos olhamos acolá. Vemo-nos de fora. Somos um espectáculo a que assistimos - mas de que não nos sentimos autores. . Não digo que a saturação, frustração, etc., não sejam sentimentos comuns, partilhados, enfim, correntes entre as classes abaixadas. Mas daí a ser possível defender o fim do trabalho, daí a que consigas, primeiro, sustentar o Fim propriamente dito, e, segundo, o que para lá Dele viria, que alternativa, que organização social, que meio de sustento - bom, vai uma distância dos diabos. . Quando acordei já estas paredes me cercavam, já estes espelhos