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A mostrar mensagens de agosto, 2020

Lembro-me que

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O último número da Ler tem na capa, no canto superior direito, o seguinte aviso: NÃO FALAMOS DE CORONAVÍRUS. Percebo-lhes o sentido e a graça e toma-me por instantes um certo sentimento de comunhão. De facto, nos dias que correm, não se fala de outra coisa. E «falar» é o verbo certo. Bem entendido, pouco se conversa sobre este tópico. «Conversar», no caso vertente, pretende remeter para uma dinâmica moral e intelectualmente honesta de reflexão, de contraditório, de partilha. A dinâmica corona-virulística não é, objectivamente, essa. A reflexão é escassa e afectada, o contraditório idem . A partilha de ideias e vivências, essa, simplesmente não tem lugar. Literalmente, não tem lugar . O tema presta-se a polarizações. É complexo – e não há tempo nem paciência para analisar e conversar acerca de temas complexos. Pertence a um domínio técnico que poucos dominam – e portanto muitos conceitos-base são mal compreendidos. Foi açambarcado pelos media , que viram nisto uma tábua-de-salvação d

Catástrofe

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Understatement do ano: dizer que esta crise pandémica trouxe consigo coisas inéditas. Um exemplo de uma dessas coisas, para memória futura: polícia prende violentamente uma jovem mulher por esta não usar máscara na via pública. Isto passou-se em Melbourne, onde desde o passado dia 5 as autoridades decretaram uma quarentena de seis semanas com recolher obrigatório entre as 20h e as 5h. Decretaram ainda o encerramento de lojas e fábricas, a paragem da construção civil e a suspensão do ensino presencial. Os cinco milhões de habitantes desta cidade estão obrigados a permanecer sempre em casa, excepto para trabalhar, procurar ou providenciar ajuda médica, fazer exercício físico ou passear os cães. Segundo o Público (edição de 4/08), que cita um jornal local, "exceptuando os motivos profissionais, todas as saídas de casa estão limitadas a um período máximo de uma hora e dentro de um perímetro de cinco quilómetros em redor da habitação". Como se percebe pelas imagens, o uso de másca

Nova entrada de diário

Reli há pouco o que escrevi a 21 de Junho. "Como é que vamos sair disto?", questionava. A pergunta mantém-se viva, latejante, em mim. Como é que vamos sair disto? Que sociedade, que ordem? Que marcas, que transformações? Pouco tenho a acrescentar ao que escrevi. Estamos a chegar ao final da primeira semana de Agosto e, se alguma coisa há que me fique na retina, é que aquele texto me parece hoje muito menos assustadiço do que então me pareceu. Estar afectado assim como estou é talvez uma manifestação de lucidez, mais que de uma especial sensibilidade. Enfim, digo isto para me convencer, para me apaziguar. Porque é muito, muito chato (a palavra que me vem sempre à cabeça é «chato») manifestar a minha posição, a minha visão de tudo isto. É-me penoso («penoso» diz melhor) sustentar a posição que assumi. Aborreço os outros e desgasto-me a mim. Tanto que, de há umas semanas a esta parte, mal o faço. Seja como for, fala-se cada vez menos acerca deste corona-vírus (há pouco mais dois