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A mostrar mensagens de maio, 2010

Este café preocupa-se com a higiene da memória dos seus fregueses

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Na volta, vai-se a ver e não exagerei

Há vezes que, relendo o que por aqui escrevinho (vendo-me de fora), me julgo exagerado, ou tipo radicalóide. Esta coisa do «Diário de um índio» que entretanto arranjei elenca invariavelmente nessa categoria do exagero. Diria que é a própria linha que imaginei para o «Diário» que gera um tipo de discurso muito simplificador e abrupto, impressão aguçada pelo tamanho relativamente curto das entradas. Mas adiante. Um dos textos em que mais achei exagerar foi o "Diário de um índio: um país aos chutos nos novos Descobrimentos por terras africanas" , onde falava de uma certa analogia entre os tratamentos e arranjos políticos e históricos (ou jornalísticos) dados aos Descobrimentos e à Selecção AA. Dito assim, há que convir que é, no mínimo, rebuscado. No entanto, hoje vi a publicidade da SIC que anuncia o acompanhamento que aquela estação irá fazer do Campeonato Mundial. E então pensei, divertido: na volta, vai-se a ver e não exagerei .

Da ecologia

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Quando a ecologia é simplesmente conduto ou chamariz para reclames publicitários, senão mesmo o objecto a consumir propriamente dito, e quando a maior difusão (d´alguns) dos seus princípios é assumida pelas grandes indústrias poluidoras de sempre - indústria automóvel à cabeça, mas há outras que tais - aí temos a ecologia lenta mas tenazmente amaneirada pela Ordem, ela que é #1 na manutenção dos seus territórios. A contestação ecológica original, potencialmente ameaçadora, foi (por mérito próprio, ironicamente) convidada a entrar na roda. E, com as ganas de tanto querer mudar este mundo sujo, aceitou. A Ordem foi-lhe dizendo que Sim senhor, tens razão para dar e vender, e tratou de a difundir à grande e à francesa - convenientemente revista, claro está - com vista à sua massificação e popularização. Por esta via, as condições para a desvitalização e mercantilização da ecologia reuniam-se paulatinamente. Quando deu por ela, a vanguarda ecológica (ou o que restava dela, ou o que foi toma

Diário de um índio: diante da Bertrand do CC Vasco da Gama

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Em última análise, mercados há só um (bem entendido, ordenado há também somente um) e todas as mercadorias têm em todas as outras as suas concorrentes directas (o que sem embargo não nega a lógica de mercados específicos para compradores específicos). É portanto sensato não esperar demasiado de lojas de livros e de música sitas em centros comerciais, uma vez que estas, não obstante a sua, por assim dizer, índole artística (mas nem por isso menos capitalizada, é bom que se diga), partilham um mesmo tecto com as cadeias de moda (apreciável locução), com as grandes lojas de electrodomésticos & tralha tecnológica diversa e, para atalhar, com tudo quanto há na praça do reino da quinquilharia e pechisbeque. Os ditâmes do negócio são claros como um urso polar e, para os que os tomam como naturais (já nem digo certos) e os seguem (ou vivem a tentar), não existe alternativa à massificação e infantilização do objecto a vender, seja ele qual for (já que o fim é o mesmo), o que, retomando o

Diário de um índio: armem por favor as armas do Amor

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Os vários sistemas políticos diferem, tanto quanto é possível vislumbrar cá de baixo, somente no meio de legitimar a governação de todo um Povo por um limitado número de indivíduos. Neste quadro, motes como o bem-comum, o desenvolvimento artístico ou a responsabilidade individual são - vade retro - convenientemente ignorados. Quanto ao mais, e contando as necessárias mudanças de cenário e banda-sonora, os diferentes sistemas são pouco menos que a mesmíssima bosta de cavalo. A título de exemplo, considerem-se os seus alicerces, todos eles interdependentes: desigualdade de oportunidades (no acesso ao Conhecimento e à Justiça), condicionamento dos comportamentos (através do Ensino Público e da Televisão), trabalho assalariado (na sua vertente de controlo do Quotidiano e do Consumo) e sobrepopulação (trave-mestra e garante de toda a Desigualdade).

PECMAN

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Não vejo como é possível criticar a subida de impostos anunciada ontem pelo Governo. São carradas de conceitos e definições inquinadas e enviezadas, profundamente enraizadas na comunicação social e nos meios de comunicação social, são pilhas e mais pilhas de comentadores e analistas políticos com interesses nem sempre obscuros, de farta credibilidade e astuta retórica, são montes e montanhas de agências de rating vindas não sei de onde, sabedoras das profundas do tesouro e finança nacional e plenas de imunidade na sua soberba, são «mercados» vagos e abstractos que - dizem - "nos pressionam", ou "nos sobem as taxas de juro", ou simplesmente desconfiam da nossa (?) idoneidade, são bolsas flutuantes e nunca como agora influentes na vida pública - é, enfim, uma imensa tempestade de areia que se abate sobre os nossos olhos. E nós de mãos atadas atrás das costas. Como, então, criticar a subida de impostos ontem anunciada? Não há como. Ao invés, nada mais elementar que def

O papa desceu à cidade, lá dos altos do Vaticano, aleluia, ou Notas da visita do Bento 16

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Todo este alvoroço com a visita do Papa deixa-me confuso. Manadas de jovens de t-shirt azul com letras estampadas berram e entoam cânticos que podiam muito bem ser dirigidos a uma estrela rock ou a uma equipa de futebol. A proximidade temporal com os festejos benfiquistas esbate ainda mais as presumíveis diferenças entre um acontecimento e outro. Com efeito, ouvi ainda há coisa de uma hora um enxame de miúdos numa cantoria ensaiada lá à porta da Nunciatura que rezava assim: . "Um papa fantástico Um papa belíssimo És a nossa fé Olé, papa, olé (...) Só eu sei Porque a-credito" . E isto é verídico. De manhã, já os tinha (não os mesmos, parecidos) ouvido gritar "Paaaapa, paaaapa" (emparelhado com o típico movimento de braços que se observa nos estádios de futebol) e logo então achei notável. Quando há uma semana ou uma semana e pouco começaram a pendurar pela cidade os quilos e quilos de publicidade da visita do pontífice sumo logo me chamou a atenção o esquema visual u

O presidente fala à cidade a propósito da visita do Papa

Ilustríssimos lisboetas, . Os prezados munícipes e demais transeuntes e operários façam-me o obséquio de entender que estarem uma porrada de ruas e avenidas cortadas ao trânsito justamente numa terça-feira de maio é assunto que pertence ao reino do divino e portanto muito para lá do mortal quotidiano do vulgo, pelo que a cooperação dos caros munícipes e etcétera é, mais que um favor que em prol do bom-nome desta mui leal cidade, altamente reputada no que à hospitalidade e bem-receber diz respeito, vos rogo; é, isso sim, um dever de cidadania e de, porque não, espiritualidade que vos cabe cumprir (por assim dizer) religiosamente. Estou certo que concordarão que o transtorno que só hipoteticamente sofrerão não faz sombra à indizível honra de acolher tamanha sumidade. Obrigadinho e que Deus vos cubra. . Muito vosso, o Presidente da Câmara

Ricardo Rodrigues, deputado do PS

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Telegrama 044

044 Comemorações oficiais do post n.º 304. Clique aqui para apoiar esta causa.

Telegrama 043

043 Comemorações oficiais do post n.º 303. Clique aqui para o Programa de Festas.

Instantâneos 3

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Este blog é um café de bairro

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Este blog é um café de bairro, vazio e silencioso. Um freguês novo, ao entrar, sente-se forasteiro. Os escassos clientes habituais, esses, estão como que em casa e arrotam à vontade (e pedem fiado, os sacanas). A porta mantém-se aberta à força da renda baixa e de um certo sentido de comédia (no sentido clássico do termo) do proprietário. Espécie de bastião de qualquer coisa antiga, que é o adjectivo usado para o que quer que seja que não apanhe o comboio da moda e da fortuna (motes à parte, que isso são outros vinte e cinco tostões), este blog-café de bairro orgulha-se do seu balcão despido e da sua aparência desinteressada e desinteressante. Orgulha-se, enfim, da sua miséria comercial. Efectivamente, sem moralizar.

"Ter a certeza das dúvidas | Por via das dúvidas saber o que achar"

A opinião chega-nos mastigada, pronta a engolir. Princípio, meio e fim (nem sempre por esta ordem) encontram-nos sentados no sofá, de olhos fixos na jaula de vidro, prevenidamente desprevenidos. Diante de nós planam pedaços entrecortados e desconexos de realidades irreais, rapidamente comentados pelos comentadores e explicados pelos explicadores. Na aparência, nível supremo da linguagem actual, tudo responde a um critério informativo. A uma só voz, eis-nos dando graças à ditosa era da informação. Ademais, pensamos e falamos por palavras. Será porventura nesse campo que mais emporcalhadamente se sentem as dificuldades de tanto nos facilitarem a vida. As palavras, seus significados e cargas, bem como os (por assim dizer) caminhos da conversação, seus motes e bitolas, estão inquinados desde a nascente. Desmontar as opiniões que em prol do nosso superior proveito nos enfiam goela abaixo é, assim, um bico-de-obra do caraças. Convido um tal de Raoul a dar o seu lamiré. Ele não se faz rogado

Um brinde à 14ª

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Elogio do Suicídio

A partir de certa idade, que não sou capaz de precisar, passei a acordar todos os dias com o suicídio à cabeceira. Nos primeiros tempos, não o nego, foi difícil. A primeira dessas manhãs foi com efeito dolorosa. Enfim, quiçá por humana fraqueza, decidi-me a adiar. Na segunda manhã, sendo o mesmo homem, novamente adiei. E assim sucessivamente. Desde então, todas as manhãs, umas mais ponderadas que outras, umas mais angustiantes que outras, decido-me a adiar uma vez mais o suicídio. As pessoas dizem-me que tenho pensamentos negros e que devia, isso sim, gozar a vida. E dizem-mo como se isto que faço não fosse uma claríssima declaração de vida, talvez a maior de todas. Anima-me um ponto, sobretudo: só estou vivo porque quero. A morte é uma decisão, um comportamento que depende da minha vontade. A vida não me pesa, uma vez que a morte não ma ensombra. Haverá atitude mais humana, estar pronto a pôr um ponto final na vida e, finalmente, decidir não o fazer, decidir viver? Se, por um lado, me