Da ecologia

Quando a ecologia é simplesmente conduto ou chamariz para reclames publicitários, senão mesmo o objecto a consumir propriamente dito, e quando a maior difusão (d´alguns) dos seus princípios é assumida pelas grandes indústrias poluidoras de sempre - indústria automóvel à cabeça, mas há outras que tais - aí temos a ecologia lenta mas tenazmente amaneirada pela Ordem, ela que é #1 na manutenção dos seus territórios.
A contestação ecológica original, potencialmente ameaçadora, foi (por mérito próprio, ironicamente) convidada a entrar na roda. E, com as ganas de tanto querer mudar este mundo sujo, aceitou. A Ordem foi-lhe dizendo que Sim senhor, tens razão para dar e vender, e tratou de a difundir à grande e à francesa - convenientemente revista, claro está - com vista à sua massificação e popularização. Por esta via, as condições para a desvitalização e mercantilização da ecologia reuniam-se paulatinamente. Quando deu por ela, a vanguarda ecológica (ou o que restava dela, ou o que foi tomando o seu lugar) havia sido despojada de algumas desnecessárias pequenezas como a redução ou a reutilização, enquanto que em sentido contrário lhe adubavam a muito mais rentável reciclagem. Isto, como não podia deixar de ser, entre outras engenharias & cosméticas de semelhante calibre.
Cedo se viu que esta discreta porém massiva acção de campanha acarretava outra consequência (ou faria ela parte do plano?): o ónus da degradação ambiental transferia-se magicamente dos grandes produtores e distribuidores internacionais - assim absolvidos - para o cidadão-consumidor anónimo. Tal operação invadiu hoje definitivamente o discurso político, a (nova) moral ecológica, as frases-chave da publicidade, os manuais escolares, as modas do ter e do estar, etcétera, etcétera, e, à força de tanta martelada, a opinião íntima (espontânea) do homem-médio.

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