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A mostrar mensagens de julho, 2021

Estilo, penetração, candidez

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Cruzei-me na rua com um cidadão que flanava nestes preparos: Apanhado desprevenido por tamanha concentração de estilo, não desolhei logo. Ele mirou-me de volta. Parecia perguntar: - Que é? Havia uma sentença nessa remirada: - Não é multado quem usa mal. É quem não usa. Ponderei falar-lhe do ponto 1 do artigo 3.º da Lei n.º 62-A/2020, de 27 de Outubro de 2020. Mas deixei-me estar quieto. Nunca nada de bom se segue a citarmos legislação. Adiante, à esquina, três anciãos debatiam os números do dia. Atirou um, assim como quem não quer a coisa: - De ontem para hoje, mais treuze. Já faz trazentos e oitenta e um. Mas outro, logo a altear a voz, corrigiu: - Qual quê! Trazentos e oitenta e três, pá, três-oito-três, que eu ainda ao almoço vi isso. O primeiro, dando um jeito à máscara, fez-se de desentendido. Seguiu escarafunchando o ecrã do smartphone com o indicador. - Diz que desde Março que não tínhamos cá tantos no concelho. Ainda o homem não acabara o “tínhamos” e

A primeira vez. A hiper-conectividade pandémica

I 13 de Julho de 2021, terça-feira, aprox. 22h: assisti à primeira crítica aberta, cerrada, sem disclaimers, não a decisões isoladas ou estratégicas do Governo, da DGS ou dalgum responsável público, mas ao fundamento da crise pandémica: a cultura do Medo, a desproporção das medidas e seus perigos, o controlo da agenda governativa e mediática, a tunnel vision. Foi José Miguel Júdice, na SIC Notícias. Foi, bem entendido, a primeira a que eu assisti. Mas eu vejo muito pouca televisão. Reparei que cometeu o mesmo erro que eu e fundou grandemente a argumentação em números. Mas, enfim, aquele cavalheiro é grisalho, usa três nomes como quem usa gravata (que também usa) e fala na televisão. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Foram precisos dezasseis meses inteiros - mas aconteceu. Ouvi-o num misto de espanto e desilusão. Criticar abertamente o que se tem vivido (repito: não é dizer que esta ou aquela medida são tontas porque "vêm tarde" ou que "tem havido falhas

O novo coronavír... quer dizer, o novo presidente do Benfica

O noticiário da SIC abriu assim: Rui Costa é o novo presidente do Benfica. Rodrigo Guedes de Carvalho imprimiu à coisa aquela nota pausadamente melodramática que tem vindo a aprimorar nos últimos tempos. De forma grave, com a voz grave. Números redondos, dos primeiros 50 minutos do telejornal, uns bons 40 foram dedicados a este assunto. Às tantas, fez-se um directo. No centro do ecrã, num encarnado impecável, fitando-nos de esguelha, um palanque. Em fundo, o relvado do Estádio da Luz, vazio e melancólico. Rui Costa apareceria, dizia Rodrigo, "a qualquer momento" - para falar à "nação benfiquista". Foi tenso. Em voz-off, o pivot e um comentador de futebol enchiam um chouriço ou dois, para matar o tempo. E o palanque ali, cada vez mais vermelho. Um minuto mais, sessenta segundos inteiros. Isto em televisão é mais. Mas o eterno camisola 10 lá apareceu, vindo do canto esquerdo da televisão. Não sei bem se flectiu, se basculou - a gíria futebolística tem que se lhe diga