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A mostrar mensagens de maio, 2020

Das opiniões

A opinião de alguém depende sempre da sua posição. Ou melhor: a validade ou a qualidade da opinião de alguém depende sempre, para quem a ouve , da sua posição social, profissional e (ou) material . Isto é especialmente verdade se essa opinião for contrária – contrária a quem a ouve, mas sobretudo contrária àquela que é a opinião predominante ou, pelo menos, a mais comum. Se a posição social, profissional e (ou) material do opinador contra-corrente for desvalorizável, então essa opinião não passará de uma tontice – uma tontice que não merece, sequer, contraditório. Isto é dizer que, se um sujeito mal-nascido, com uma profissão não-especializada e (ou) proprietário de um carro velho, omite uma opinião incomum ou desconfortável sobre o actual estado da democracia parlamentar, da evolução do programa espacial europeu ou da gestão das florestas na Península, quem a ouve o mais que fará é esboçar um sorriso de condescendência, abanar ao de leve, negativamente, a cabeça – e

Balanço Covid-19. Por um tipo com mau feitio

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N.º de pessoas presentemente doentes: 11758 % destas face à população nacional: 0,11% N.º de pessoas presentemente em internamento hospitalar: 536 % destas face ao nº de pessoas presentemente doentes: 4,55% N.º de pessoas presentemente em UCI: 78 % destas face ao nº de pessoas presentemente doentes: 0,66% Taxa de Letalidade: 4,30% N.º de óbitos em pessoas com menos de 50 anos de idade: 16 % destes face ao nº total de óbitos: 1,22% N.º de óbitos em pessoas com 70 ou mais anos de idade: 1146 % destes face ao nº total de óbitos: 87,08% N.º total de infectados desde o início da pandemia: 30623 % destes face à população nacional: 0,29% % de confirmados face ao nº total de suspeitos: 9,87% Evolução  do desemprego desde o início da pandemia: +24,30% Desemprego em Abril de 2020 face a Abril de 2019: +22,10% Fontes Dados da situação epidemiológica - esta Dados do desemprego - esta

Futurologias covidianas (2)

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Segunda-feira, 25 de Junho de 2020 Em declarações à margem de um encontro com empresários do sector das Máscaras e Sabonetes Líquidos, António Costa confirmou que, no contexto da gestão da actual crise pandémica pela Covid-19, os eclipses lunares dos próximos dias 5 de Junho e 5 de Julho serão adiados para o Verão de 2021. Ainda não há novas datas confirmadas.

Da opção sueca ao jornalismo português

Título do Público de hoje: “Na última semana a Suécia foi o país com mais mortes per capita da Europa”. A notícia elabora uma tese (creio honestamente que esta é uma forma rigorosa de descrever esta peça jornalística) que é sintetizada, na página seguinte, na rubrica das setas (onde apontam quem esteve bem, quem esteve mal e quem esteve assim-assim): “O modelo sueco de abordagem à covid-19 (...) não está a produzir grandes resultados (até a nível económico) (...)”. O rosto desta seta é Anders Tegnell, epidemologista-chefe e responsável-mor da gestão da doença naquele país escandinavo. A seta dada pelo Público é, está bom de ver, vermelha e a apontar para baixo. Em suma, a ideia assenta sobre duas traves-mestras: uma, a estatística de mortos per capita da semana de 12 a 19 de Maio, que a Suécia lidera; outra, a fraca comparação com a quebra no consumo entre a Suécia e a Dinamarca. Daqui se conclui que a estratégia sueca “não está a produzir grandes resultados” – “a

Eu aqui

Nunca deixo de pensar sobre como me olharão estas pessoas que aqui passam na rua, sob a minha varanda. Aqui estou, neste pequeno alto, lendo, tomando placidamente um café ou um vinho do Porto, mirando a serra ou a nesga de mar que daqui se alcança, espreitando a rua (nisso pondo o ar mais alheado que consigo) com um gato mole e sadio ao lado, para mais de um tigrado laranja que tem o seu quê de exótico – aqui estou, jovem quanto baste, despreocupado, com tempo de sobra, de calções e t-shirt em dia de trabalho, a pele das pernas e dos braços já amorenada – aqui estou, sentado a uma mesa de jardim, numa imobilidade contrastante com aquela tensão nervosa própria de quem vai ou está a trabalhar, numa quietude vagabunda tão inversa àquela impetuosidade direccionada de quem sabe quando e para onde tem de ir – aqui estou, habitante deste prédio de aspecto sólido e confortável, gozando dos luxos de viver onde tantos apenas passam por motivos de trabalho, onde a vida não é – porque não pode ser

FPL: looking forward to resumption (3/3)

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My team as is This is how my team currently stands: I decided not to use any of the free transfers that became available following the pre-scheduled fixtures and deadlines. I won't deny that it already crossed my mind once or twice that maybe I should've made a couple of moves. The likes of Traore, Williams and Jota just don't look right. But it's very hard to make whatever moves with the budget they free up and, perhaps most importantly, we just have no clue on what shape and form the teams and players will return to competition. I could also ponder on moving on one or two of my most expensive assets - Vardy and Auba would be the first in such a list -, but I found no valid reason to drop any of them. Salah, TAA or KdB are all plain simple Keep - for now, at least. Doherty offers Alonso-like points potential, but, unlike the Spaniard, is nailed-on. Auba and Vardy are both guaranteed starters, are both on penalty duties, are both talismans for their respective te

Sexta-feira, 13. Maio de 2011

Passam hoje nove anos sobre aquele que foi, provavelmente, o dia mais maravilhoso da minha vida até este momento. Obrigado, Rita. Foi uma sexta-feira. Estava imenso calor. Faltámos ao trabalho juntos. Decidimos isto quando tínhamos já o hospital à vista. Regressámos ao metro a rir. Ignorámos as chamadas e mensagens da nossa chefe da altura. Almoçámos bitoque num sítiozinho abaixo da Igreja da Madalena e conversámos imenso. Subimos depois à Sé, onde nos sentámos ao lado do altar-mor e ficámos a saber que naquela casa não entra o Amor. Não parámos de subir. Teatro Romano, Portas do Sol. Corremos depois os labirintos de Alfama. Trocámos beijos e abraços. Sentámo-nos à sombra da igreja que tem uma só torre. Estivemos no Beco dos Cativos. Dalguma maneira, nunca mais de lá saímos. Despedimo-nos ao final do dia no metro, em Santa Apolónia. Foi só isto. Foi o dia mais maravilhoso da minha vida.

FPL: looking forward to resumption (2/3)

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The expected (and rather intriguing) returns from injury And what about those players that got injured "for the rest of season", but are now, due to this prolongued postponement, back into contention (or close to)? We've already mentioned Leroy Sané, but three other players top that list: the two Spurs front men, Kane (8,5% ownership) and Son (4,4% ownership); and Marcus Rashford (9,5% ownership). All of them are very low owned - especially if we consider that a big part of their present owners are probably inactive managers - and all of them will be as nailed-on as it gets - albeit prone to seeing their minutes managed following their recent condition and the extremely congested schedule. Nevertheless, their explosion potential is widely known and they'll all be realistic captain options, making them the sort of differential picks that could really have an impact in the final acts of the season. But there are a few more cases that deserve a second look. Ars

Incubus. Since 1999

Tenho andado a (re)descobrir o último álbum dos Incubus - e é como estar apaixonado outra vez. Aconteceu com este 8 o mesmíssimo que aconteceu com alguns dos anteriores, como A Crow Left Of The Murder ou If Not Now When : a primeira reacção é de estranheza e quase-recusa. A diferença é esta - e apercebo-me cada vez mais do quão essencial isto é: tenho disponibilidade para ouvi-los e re-ouvi-los. Não desisto. E este benefício da dúvida  afigura-se-me como algo bem mais complexo do que aquilo que, neste ponto, sou capaz de expressar. Funda-se em algo que vem lá de trás, de um tempo que remete para a formação de quem sou, que compõe o continuum do que fui sendo, onde me reconheço e revejo, por um lado, e que aponta ao que quero ser, por outro. Porque falar de Incubus é falar da minha própria fundação. É patético dizer isto; e, no entanto, é algo que quero, desassombradamente, admitir. Talvez preferisse sentir esta ancoragem em relação a algo mais erudito, menos pop . Mas mesmo isto é

FPL: looking forward to resumption (1/3)

We are now a month away from Premier League resumption - or so we hope. This week will be a decisive one on the whens and hows - nevermind the ifs - and it's a mouth-watering prospect the scenario of a couple of Summer months packed with english football. Plus, for the FPL managers, such as myself, that weren't having the best of seasons, the sense of unknown surrounding pretty much everything concerning fixtures & gameweeks, new rules to the game and players and managers response, adds a bit of extra hope that we might be the ones to get the best out of what's left to play. And on these two rather optmistic notes, we can have a quick look on what the future holds. The four with ten to play Let's keep it simple. All teams but four have nine games to play. The four sides that have a tenth game yet to be played are Arsenal, Aston Villa, Sheffield United and Manchester City. They'll naturally face each other; the pairing will be City vs Arsenal (at the Etihad

Da entrevista de Johan Giesecke ao Público

Johan Giesecke, epidemiologista e consultor da DGS sueca para o evento da Covid-19, deu uma muitíssimo interessante - ainda que curta - entrevista ao Público ( link ). Antes, porém, queria frisar o quão notável é a insularidade do caso sueco no Mundo. O Reino Unido adoptou inicialmente esta abordagem, mas abandonou-a após um estudo do Imperial College que antecipava 250 mil mortes nas ilhas. Há depois o caso brasileiro, mas esse é... complicado de classificar. Quanto ao mais, e apesar de óbvias e necessárias cambiantes, há uma opção global (globalizada) pelo confinamento. E quanto mais cedo e mais à bruta, melhor. É, aliás, impressionante a influência e o poder desta doença na acção política nos cinco continentes: os exemplos de países que decretaram severas medidas de confinamento e controlo social de forma muito precoce são imensos - alguns, diga-se, plenos de criatividade. Casos há em que fica até a impressão de apenas ambicionarem aderir à trend lançada pelos países industrializ

Sobre o uso de máscara

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E eis que o uso de máscara se massificou. Aqui na terra, quase não há quem não ande com uma mesmo a conduzir ou a caminhar na rua, ao ar-livre. E diz mesmo na lei - Use máscara, senão... A ideia de protecção associada ao uso de máscara é muito linear. É uma daquelas coisas que, na aparência, se explicam por si próprias. Mas que dizem a DGS e a OMS? Comecemos por esta última. Até há cerca de semana e meia, podíamos ler isto no seu website : Dizia-se claramente que o uso de máscara devia ficar reservado aos casos de pessoas infectadas ou de pessoas que estivessem a cuidar de pessoas infectadas. A isto se contrapunha o princípio do desperdício de um recurso que não era (como ainda não é) ilimitado e que não podia faltar a quem verdadeiramente dele precisasse. Alertavam ainda para o mau uso de máscaras, comportamento que, inversamente, aumenta o risco de contágio. E terminavam dizendo que as formas mais eficazes de protecção do próprio e dos outros eram, como sempre foram, a l

Tu. E este dia

Dia da Mãe. Tu és Mãe. És, acima de tudo, Mãe. Dizes imensas vezes que pensas que não és suficiente. Errado. O correcto é: nunca tenho o suficiente de ti. Nunca fico saciado de ti, saturado de ti. Como não ficaria se não fosses Mãe (e todas as outras mil coisas que és e que me roubam de ti aos bocadinhos). Hoje sabe-me sempre a pouco. Portanto, hoje sabe-me sempre a tanto. És Mãe. Mas que é isto de «ser Mãe», de ser-algo? Sem que o saiba explicar muito bem, sinto que há na expressão uma inversão qualquer da ordem acertada das coisas. Como se o que és (Mãe, Professora, Namorada, etc.) te secundarizasse, te fizesse sombra, te definisse. Como se o teu Eu resultasse desse conjunto de Ser-Isto, Ser-Aquilo, e não o inverso. Como se o teu Eu se definisse através desses papéis e não o inverso. Enfim, são só palavras e frases e formas de expressão. Mas são mesmo? Ou são mais que isso? Não serão antes reflexo de uma forma de nos vermos uns aos outros, de nos vermos a nós próprios? Não serão a

A questão do «exemplo vindo de cima»

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Uma pergunta inofensiva. Uma senhora estende-nos a mão para nos cumprimentar; que devemos fazer? Hipóteses: dobramo-nos em dois numa vénia repuxada e aparatosa devolvemos urbanamente o cumprimento rejeitamos o cumprimento e tratamos de garantir que não há sequer contacto físico Opção certa? Bom, depende. Se este encontro imaginário tiver lugar sob a regência d'El-Rei D. João V, opção 1. Se formos pessoas normais neste e deste tempo, opção 2. Se tal encontro se der numa reunião de trabalho entre responsáveis políticos ao mais alto nível e estiver a ser filmado por um batalhão de operadores de câmara de todo o Mundo, opção 3. Quando, no início de Março, Horst Seehofer, Ministro do Interior alemão, recusou o handshake de Angela Merkel, quem (quase) errou não foi o ministro, foi a chanceler. Numa altura em que eram cerca de 150 os casos confirmados de Covid-19 na Alemanha, tratava-se de cumprir à risca as recomendações sanitárias. Mas, mais do que isso

"Deixe o que quiser. Leve o que precisar."

Numa das ruelas interiores de Mafra encontra-se, em cima de uma cadeira, encostada à fachada de um pequeno prédio, uma caixa rectangular de plástico transparente. A tampa está fechada, mas abre-se sem custo. Lá dentro estão o que parecem ser sacos de massa e arroz e pão. Uma folha A4, numa das faces, apela, em maiúsculas manuscritas: DEIXE O QUE QUISER, LEVE O QUE PRECISAR. É uma manifestação desinteressada de Belo, um objecto que dá corpo a algo singelo e bonito, material e moralmente. Pois das duas primeiras vezes que lá passei não foi isso que vi naquela caixa. Não vi ali, certamente, nada de mal; acho que vi apenas algo de um kitsch fastidioso e, em última instância, profundamente hipócrita. Mais uma destas coisas fofinhas de agora, pensei. Como os vídeos épicos de agradecimento aos cantoneiros ou as canções de louvor aos caixas de supermercado, os "nossos heróis do dia-a-dia". Como os discursos descabidos dos pivots de telejornal ou os arco-íris pousados em nuvens d