Tu. E este dia

Dia da Mãe. Tu és Mãe. És, acima de tudo, Mãe. Dizes imensas vezes que pensas que não és suficiente. Errado. O correcto é: nunca tenho o suficiente de ti. Nunca fico saciado de ti, saturado de ti. Como não ficaria se não fosses Mãe (e todas as outras mil coisas que és e que me roubam de ti aos bocadinhos). Hoje sabe-me sempre a pouco. Portanto, hoje sabe-me sempre a tanto.

És Mãe. Mas que é isto de «ser Mãe», de ser-algo? Sem que o saiba explicar muito bem, sinto que há na expressão uma inversão qualquer da ordem acertada das coisas. Como se o que és (Mãe, Professora, Namorada, etc.) te secundarizasse, te fizesse sombra, te definisse. Como se o teu Eu resultasse desse conjunto de Ser-Isto, Ser-Aquilo, e não o inverso. Como se o teu Eu se definisse através desses papéis e não o inverso. Enfim, são só palavras e frases e formas de expressão.
Mas são mesmo? Ou são mais que isso? Não serão antes reflexo de uma forma de nos vermos uns aos outros, de nos vermos a nós próprios? Não serão aquilo que fica dos outros e de nós próprios?

Pois Tu és Mãe, mas isso não te define, não te aponta nenhum limite.

Já eras Mãe quando te conheci. Nessa altura, jamais diria És, acima de tudo, Mãe. Porque, para mim, não o eras. Mas as coisas mudaram desde então. Tanta coisa mudou desde então. E é talvez surpreendente como o facto de tanta coisa ter mudado desde o tempo da Paixão não ter, de maneira nenhuma, uma carga negativa. Pelo contrário: é bom, é profundamente, intimamente bom, bom de uma maneira que mais ninguém pode saber.
O essencial é talvez isto: «mudar» não é o verbo certo; «evoluir» diz melhor. As coisas evoluíram imenso desde que te conheci. A começar por mim. Viver contigo, no sentido mais profundo do termo, fez-me melhor. Obrigado. Mesmo.

Já eras Mãe quando te conheci e não foi pela Mãe que me apaixonei. Mas seria preciso não ter aprendido rigorosamente nada ao longo destes anos para não perceber que a maternidade é parte integrante do Todo que eu amo.

És uma Mãe admirável, acredita. Sou a pessoa mais abalizada para fazer este juízo e nunca o diria em voz alta se não fosse esta a minha convicção. Parabéns por seres a Mãe que tens sido. Sei que é em troca de muitas lágrimas, muito sacrifício, muita dor. Mas também sei que não poderia ser de outra maneira. Mais: que não o quererias de outra maneira.

Enfim, que digo? Que sei eu? Admiro-te. E é tudo.

Hoje é Dia da Mãe. Mas antes de ser da Mãe, foi um Dia mais. E eu pude partilhá-lo contigo, vivê-lo ao teu lado. E este aparente nada, este fio de tempo que nos esvai entre os dedos sem que o consigamos reter, foi bom, foi mesmo bom, sabes?

Hoje, como sempre, soube-me a tanto. Portanto, hoje soube-me a pouco.

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