Mensagens

A mostrar mensagens de 2021

A recomendação prometida

Imagem
Eis que se anuncia a vacinação das crianças dos 5 aos 11 anos. Apurou-se, garantem-nos, que é seguro . Isso basta, parece: que não seja inseguro. Sobre a lógica na gestão e precedência de recursos ou quanto à prevenção efectiva de problemas sanitários, tudo se me afigura vago. Enfim, alguma coisa se há-de ganhar na protecção destas crianças e na protecção comunitária. Olhando, porém, a variáveis como a mortalidade e a doença grave (os dois maiores ganhos que vão sendo associados à vacina) ou mesmo a propagação viral desta população, não é fácil de, de um ponto de vista não-político-partidário, seguir esta dinâmica vacinal e sobretudo as crescentes restrições cívicas associadas à não-vacinação. Queiram aliviar os mil constrangimentos à vida escolar e já não terá sido em vão. De uma maneira ou de outra, estamos próximos já da vacinação universal, bem para lá de qualquer uma das marcas que nos foram sendo apresentadas para uma pretensa imunidade de grupo. Que, apesar de termos quase 90% d

Stock para 2023, stock antes da autorização técnica & ainda a Omicron

Imagem
Acabo de ouvir na emissão da Sky News que o SNS do Reino Unido adquiriu já 114 milhões de doses junto da Pfizer e da Moderna. Para o próximo ano  e o seguinte . Soubemos a semana passada que o governo português tem já 300 mil doses a postos para o próximo dia 20 e que tem já contratadas com a Pfizer outras 460 mil a chegar a Janeiro, destinadas todas às crianças na faixa etária dos 5 aos 11 anos. Antes  sequer de haver qualquer luz verde para a sua administração. Ainda sobre o isolamento de toda a região sul de África em pretensa resposta à identificação de uma nova variante especialmente perigosa - é uma medida apontada por inúmeros especialistas como extemporânea e, mais do que isso, errada, com impactos seriíssimos em termos socias, económicos e mesmo civilizacionais. Não só, ao que se vai sabendo, havia já registo prévio de casos associados à Omicron fora de qualquer dos países daquela faixa sul-africana, como interditar ligações (sobretudo) aéreas é uma medida gritantemente políti

O arroz de pato e duas artes que rareiam

Tenho ao meu lado quatro cavalheiros discutindo gravemente os filetes de pescada, os arrozes de pato, os enchidos da casa tal, se o frango é caseiro ou se não é, e que se não é logo o resto fica desengraçado, diz-se O melhor filete do Porto é em tal sítio, outros dois aprontam-se a contestar que Isso dizer-se uma coisa assim é preciso cuidado e um terceiro, num aparte, com peso, com filosofia mesmo, suspendendo o cálice de moscatel a meio caminho da boca, vai que Um filete tem muito que se lhe diga, ao que o primeiro concede, refere uma matemática sobre a legitimidade de se afirmar algo como o que acabara de afirmar, Só conhecendo 100 sítios, só aí se dirá Em tal sítio come-se O Melhor Filete do Porto, mas logo acrescentou, num misto de humildade e desafio, Mas isto dizem-me os meus colegas do Porto, não sou eu que o digo, do Porto percebem eles, e em torno da mesa, de par com uns goles breves nos copinhos de branco, corre um murmúrio de reconhecimento e pacificação. Seguiram ainda ret

Omicron, o Super-Mutante

Imagem
Foi sábado passado, há tão somente 4 dias, que a OMS baptizou mais uma nova variante do não-tão-novo coronavírus, identificada pela primeira vez na África do Sul. E logo o Hemisfério Norte isolou profilaticamente todo o sul de África. É um pedaço de absurdo que rivaliza em tamanho com a Muralha da China. E que, como ela, se avista do espaço, como fica claro na imagem de satélite que segue. Passar para cá do risco vermelho ou fazer, à direita e à esquerda, a travessia oceânica, tornou-se literalmente da noite para o dia uma quase-impossibilidade. Do pouco que restou depois de decretados novos fechos de fronteiras (Israel, Japão) e posto em marcha o corte abrupto das ligações com aquele conjunto de países (quase todos os países europeus, Brasil, Austrália, Angola, vários outros), avulta o reforço das restrições às chegadas. Entre exigências cumulativas de certificados de vacinação, testes negativos (à partida, à chegada, em dias consecutivos após a chegada, o diabo a sete) e isolamentos

Negacionismo invertido

Imagem
Ouvi na rádio à hora de almoço: Jens Spahn, Ministro da Saúde alemão. disse que, nos próximos meses, os alemães estarão "vacinados, curados ou mortos". É uma forma curiosa de pôr as coisas. A premissa subjacente a esta extraordinária afirmação é muito simples: desde que estejam vivos, os alemães ficarão doentes com COVID-19. O resto define-se a partir dessas duas traves-mestras (Vida & COVID-19) e restam três vias, que, supõe-se, se excluem mutuamente: ou estão vacinados (e vivem), ou estão curados (e sobreviveram), ou estão mortos (e é bem feita). Há certamente muito mérito nesta informação - porque é de uma «informação» que se trata (obrigado, Jens) e não de uma «opinião» ou «laracha» (haja respeito, o homem, além de ministro, é alemão). E mais que mérito, há rigor, há benefício, há mesmo muito boa gente a quem isto sobremaneira animará. Desde logo, os mercados: ninguém gosta mais de previsibilidade (e previsibilidade maquiavélica, ainda por cima) do que as agências de

In nomine Salutem

De volta a casa, de volta ao "teletrabalho". Devia estar animado. Afinal de contas, o teletrabalho é excelente. Mas sinto-me meio anestesiado. Tudo isto me perturba profundamente. Aquilo a que assisti nos últimos dois ou três dias no escritório afectou-me. É confuso e é difícil distinguir os momentos e os gestos. De resto, nada disto é novo ou é especialmente estranho e foi tudo (a meu ver, pelo menos) extraordinariamente rápido. Fica-me a impressão de uma onda silenciosa. Como uma onda, não a podemos parar e só aparentemente sabemos donde ela vem e onde vai rebentar. Foi ela que nos trouxe de volta a casa. Para já, foi aqui que nos trouxe. O desejo de voltar ao teletrabalho era expresso e várias vezes falado. Ei-lo tornado realidade. Tudo em nome da protecção da Saúde de todos e de cada um. In nomine Salutem. Um colega testou "positivo" na segunda-feira. Seguiram-se-lhe mais dois, dentre um grupo mais alargado de colegas que, por algum critério que me escapou, se s

A ditadura da (vacinação) COVID-19

Imagem
1. Qual é a melhor maneira de descrever o grau, ou o tipo, de obrigatoriedade da vacinação COVID-19 na generalidade dos países ocidentais? Trata-se de uma obrigatoriedade indirecta ou de uma obrigatoriedade velada?   Subentendida ou oficiosa? Envergonhada ou desavergonhada? Prática ou por inerência? O fenómeno levanta, como se vê, questões semânticas de alevantadíssimo interesse. Note-se, porém, o seguinte: a discussão será sempre, sejamos francos e rigorosos, a da adjectivação da obrigatoriedade. Porque que é obrigatório não se discute. 2. Em Portugal tivemos o uso generalizado do chamado «certificado». Só os cidadãos com certificado (leia-se, os cidadãos certificados) podiam, por exemplo, jantar no interior de um restaurante entre sexta-feira e domingo ou, outro exemplo, pernoitar numa unidade hoteleira. Havia, bem sei, a alternativa do teste negativo, mas o essencial é isto: a cidadania conheceu (conhece ainda) uma hierarquia: os que têm certificado e os que não têm certificado. A

O OE para 2022 e duas notas para memória futura

Imagem
Foi hoje feita a apresentação pública da proposta governamental para o Orçamento do Estado do ano que há-de vir. Ouvi, em directo, com toda a atenção. Mas, depois de um preâmbulo arrastado em que Leão, monocórdico, descreveu um mundo paralelo para onde seria bom emigrarmos todos (onde os hospitais têm médicos e enfermeiros até ao tecto, onde as famílias dão um pontapé numa pedra e saem de lá milhões em poupanças), logo os indexantes, os rendimentos colectáveis, os englobamentos, os PEC e os IEC e os mais que nem fixei - me deram um nó. E fui progressivamente ficando como alguém que se inicia num novo idioma e se aventura já numa primeira conversação: depois das saudações iniciais, que fazem tudo parecer tão fácil, fui perdendo o fio à meada e fui caindo na real: ainda não sou proficiente nesta língua estrangeira. Porque é de um sentimento de exclusão - um sentir-se estrangeiro - que se trata. O assunto é necessariamente técnico, não discuto isso. Mas não bate certo. Feitas as contas, é

Um povo que se demite em bloco

Imagem
Há umas semanas atrás, o alerta que se segue teria sido percepcionado e veiculado nos media como "sinal claro" de "relaxamento" e "incumprimento" e teria levado especialistas e cidadãos comuns a defenderem a "necessidade urgente" do "endurecimento" das medidas de controlo da pandemia. Mas o tempo é já o de um pós-pandemia qualquer. E a precariedade histórica, sistémica, estrutural do SNS - reduzida ao longo de meses a produto exclusivo dos "relaxamentos" e dos "ajuntamentos" - voltou ao seu lugar costumeiro nos alinhamentos dos telejornais: ensanduíchada entre a última guerra intestina do CDS-PP e os golos dos jogos de futebol da véspera. Setúbal, Faro, Évora, Vila Franca de Xira - a lista aumenta a cada novo dia. Entretanto, discute-se o Orçamento do Estado. E, depois de mais de ano e meio de crise sanitária, de uma segunda "gripe espanhola", de #vaificartudobem, #fiqueemcasa e o diabo a sete, de bocas che

Domingo de votar

Eleições autárquicas, domingo de votar. Levo já o voto decidido, não guardo a escolha para depois. Escolhi logo na sexta, enquanto tomava o café na esplanada. Voto naqueles que buzinaram mais e mais alto e durante mais tempo e com a maior caravana de automóveis. Só lhes decorei a cor das bandeiras. Espero que o boletim seja a cores. Se, a bem da fazenda nacional, o boletim for a preto-e-branco, faço um-dó-li-tá. Mas em surdina. O acto é solene e impõe-se algum decoro. Numa eleição nacional, até ver, nunca fui capaz de votar em alguém. Como me chega o boletim, assim o devolvo, salvo que dobrado religiosamente em quatro e não sem antes ir para trás do biombo, guardar um segundo ou dois para despistar e só depois começar a dobragem. Isto é, com excepção dos referendos, só em autárquicas é que botei uma cruz. Mas isto sou eu, que venho de uma zona urbana, onde o distanciamento (de classe) social já era lei antes da pandemia. Quem cresce e vota numa zona menos urbanizada, testemunha vezes d

O cerco mediático: dois sinais (e uns pozinhos)

Imagem
Duas coisas há que entram pelos olhos adentro: que esta pandemia é um fenómeno eminentemente mediático; e que os media, genericamente falando, têm feito de tudo para manter o lume vivo. Isto é dizer, respectivamente, que: - não fora a acção específica da comunicação social (sobretudo a televisiva e a online) e tudo seria completamente diferente; e que - os media têm optado por noticiar (a martelo) umas coisas e calar outras (ou pelo menos dizê-las muito, muito baixinho), sem que se vislumbre nessas opções critérios de imparcialidade, objectividade ou isenção. Ao invés, o que transpira desse posicionamento é exactamente o inverso: parcialidade, subjectividade, conveniência narrativa. Isto é tudo impressão minha, não o nego. E, num tempo em que as bocas andam tão cheias de Ciência, fica mal não acompanhar estas afirmações com um estudo norte-americano (ou algo do tipo). De facto, esta treta das impressões não vale nada e importa muito pouco. São coisa arcaica, pré-científica, feita só de

O surto de Santa Cruz

Imagem
1 Um surto de COVID-19 em Santa Cruz foi hoje tema de abertura do noticiário da hora de almoço da SIC e SIC Notícias. E isto é, por si só, relativamente notório, até porque parece certo que de há umas semanas a esta parte a pandemia vem sendo secundarizada nos alinhamentos. Os tempos do monotematismo neurótico e massacrante chegaram ao fim? A tragédia afegã terá sido o princípio do fim da pandemia? De uma maneira ou de outra, o que me parece especialmente interessante neste surto de Santa Cruz é que ele encaixa como uma luva na narrativa dominante. Os novos casos terão tido origem nos contactos tidos entre jovens em festas na praia e em bares. Isto é o equivalente, nos dias que correm, a roubar a caixa de esmolas da paróquia ou a escarrar na sacrossanta bandeira nacional. De manhã eram 29, à hora de almoço eram já 33. Amanhã, só deus sabe. Há "caso", claramente. (Atente o leitor na fotografia escolhida pelo site da SIC Notícias para ilustrar a coisa. O Barthes teria uma ou d

Especialistas e farmacêuticas: uma relação curiosa

Imagem
O Expresso noticia que Filipe Froes, consultor da DGS, coordenador do Gabinete de Crise contra a COVID-19 da Ordem dos Médicos e membro do Conselho Nacional de Saúde Pública, "recebeu €385 mil das farmacêuticas desde 2013" .  O semanário nota que a Pfizer e a AstraZeneca, duas destacadas fabricantes de vacinas contra a COVID-19, se contam entre o grupo de farmacêuticas que financiaram o especialista. E especifica: "Só em 2020 e 2021, por exemplo, Froes recebeu da Pfizer €26.407 (...)". Estes dados foram retirados da plataforma online «Transparência e Publicidade», do Infarmed, acessível aqui . Fui lá dar uma olhada. Escrevi "Pfizer" e cliquei «Pesquisar». Lá está, logo na primeira página de 2021, uma referência a Froes: (clique para ampliar) Não revi os números avançados pelo Expresso , mas são várias as declarações que envolvem Filipe Froes. Além dos já referidos, outro agente que declara pagamentos a este especialista é a Gilead Sciences, fabricante do

A vacinação dos 12-15: cronologia de um processo político. Quer dizer, técnico

Imagem
20 de Julho: subentende-se da «libertação» anunciada pelo primeiro-ministro que o plano de vacinação abarca as crianças entre os 12 e os 15 anos, apesar de não haver ainda orientação da DGS nesse sentido. 21 de Julho: o primeiro-ministro diz que está tudo pronto para cumprir a meta da vacinação, mas que qualquer decisão que venha da DGS, nomeadamente contra a vacinação das crianças dos 12-15 anos, é para respeitar. Uns dias mais tarde, o vice-almirante dá especificamente a saber que a task force está pronta para vacinar todas as crianças dessa faixa etária antes do início das aulas. Um dia ou dois depois, o primeiro-ministro faz eco da promessa na AR. Acrescenta ainda, com um sorriso, que não se antecipará à decisão da DGS. 30 de Julho: uma semana depois de ser veiculada essa mesmíssima decisão, a DGS anuncia que a vacinação para esta faixa etária é recomendada apenas para casos de crianças que tenham certas comorbilidades associadas. No dia seguinte, numa viagem ao Brasil, o president