A recomendação prometida

Eis que se anuncia a vacinação das crianças dos 5 aos 11 anos.


Apurou-se, garantem-nos, que é seguro. Isso basta, parece: que não seja inseguro.

Sobre a lógica na gestão e precedência de recursos ou quanto à prevenção efectiva de problemas sanitários, tudo se me afigura vago. Enfim, alguma coisa se há-de ganhar na protecção destas crianças e na protecção comunitária. Olhando, porém, a variáveis como a mortalidade e a doença grave (os dois maiores ganhos que vão sendo associados à vacina) ou mesmo a propagação viral desta população, não é fácil de, de um ponto de vista não-político-partidário, seguir esta dinâmica vacinal e sobretudo as crescentes restrições cívicas associadas à não-vacinação. Queiram aliviar os mil constrangimentos à vida escolar e já não terá sido em vão.

De uma maneira ou de outra, estamos próximos já da vacinação universal, bem para lá de qualquer uma das marcas que nos foram sendo apresentadas para uma pretensa imunidade de grupo.
Que, apesar de termos quase 90% da população vacinada, vivamos em permanente estado de excepção é, quiçá, um mero problema de comunicação, um "irritante", um equívoco que uma simples errata resolveria. Algo deste tipo: «onde se lê "regresso à normalidade" leia-se "regressão e normalização"».

Ok que não seja inseguro, mas pergunto: a vacinação das crianças do 1º ciclo é prioritária? A pergunta surge num quadro de desequilíbrios gritantes na assistência médica e no acesso ao SNS. 

Dois exemplos.
Acabo de ouvir um registo radiofónico de um responsável da Ordem dos Médicos que esteve em visita ao Hospital Garcia da Orta (que terá, por um [1] caso de Omicron, os serviços de consulta e urgência pediátricos encerrados por vários dias) a sublinhar que a COVID-19 não é, pasme-se, o problema principal naquela unidade.


A sobremortalidade voltou a ser, tragicamente, um facto notado e, pasme-se, a COVID-19 só explica, arredondando por excesso, 4% dessa dinâmica.


Mas a onda não ameaça abrandar. São vários os países que debatem seriamente a obrigatoriedade legal da vacinação contra a COVID-19, no que é, afinal de contas, a sequência natural de meses a fio de uma obrigatoriedade velada, em surdina. Hoje mesmo, o dono de um restaurante vizinho, referindo-se ao teimoso do cunhado que não-quer-porque-não-quer ser vacinado, me dizia, muito encarnado:
- Então ele não vê que assim não tem liberdade?

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