Omicron, o Super-Mutante

Foi sábado passado, há tão somente 4 dias, que a OMS baptizou mais uma nova variante do não-tão-novo coronavírus, identificada pela primeira vez na África do Sul. E logo o Hemisfério Norte isolou profilaticamente todo o sul de África.
É um pedaço de absurdo que rivaliza em tamanho com a Muralha da China. E que, como ela, se avista do espaço, como fica claro na imagem de satélite que segue.


Passar para cá do risco vermelho ou fazer, à direita e à esquerda, a travessia oceânica, tornou-se literalmente da noite para o dia uma quase-impossibilidade. Do pouco que restou depois de decretados novos fechos de fronteiras (Israel, Japão) e posto em marcha o corte abrupto das ligações com aquele conjunto de países (quase todos os países europeus, Brasil, Austrália, Angola, vários outros), avulta o reforço das restrições às chegadas.
Entre exigências cumulativas de certificados de vacinação, testes negativos (à partida, à chegada, em dias consecutivos após a chegada, o diabo a sete) e isolamentos compulsivos (alguns em duplicado, como no Canadá ou em Hong Kong - onde, antes de uma quarentena de 14 dias num hotel, se impõe um isolamento de uma semana numa infra-estrutura governamental e sujeição a testagem diária), ganha relevo uma outra dinâmica: a regressão civilizacional aos nacionalismos mais abjectos.
Em todos estes casos de restrições de viagens, sem excepção, se distingue entre nacionais e estrangeiros. Aos casos em que os estrangeiros (ainda) são autorizados a entrar, somam-se outras condições. Na Argentina, por exemplo, é preciso fazer prova de que se tem um seguro de saúde com cobertura para a COVID-19. Na Índia, entre mil outras coisas, é preciso submeter um formulário com o histórico de viagem dos 14 dias anteriores.

E tudo isto porque (?) a tal nova variante, apodada de Omicron, foi classificada pela OMS como VOC - Variant of Concern. O que, como se vê no quadro abaixo, tirado do sítio oficial desta organização, significa essencialmente que se trata de uma variante que pode ter umas mais altas taxas de transmissibilidade e virulência e que pode estar associada a uma redução da eficácia das medidas de combate.


Mas dizer-se Variante Preocupante é meio insosso. E foi talvez por isso que o Saponews pôs as coisas nestes termos: "COVID-19: Nova variante "super-mutante" chama-se Omicron, anuncia OMS".


Super-mutante está realmente mais em linha com a narrativa mediática que se tem servido à grei. A receita é fácil: meio quilo de mau gosto, uma mãozada de drama, duas colheres de sopa de vista grossa ao estado da arte descrito pelas organizações médico-científicas. Serve-se quente (a ferver), sem deixar repousar (sem [deixar] pensar).

É que, afinal de contas, o que é que se sabe sobre esta nova variante? 


Sabe-se o «pouco» do costume. Nada mais natural.
Mas que se avancem para restrições tão radicais com base em tão pouco é incompreensível e intolerável (por mais que seja esta, de há vários meses a esta parte, a norma). Seja como for, tanto quanto se sabe, a quase totalidade dos casos associados a esta nova variante são ligeiros. Esta tem sido, porém, uma crise pandémica saturada de zelo & precaução - e então hoje foi isto:


E é assim que, após meses de indecentes e mesmo ilegítimas pressões para que nos vacinássemos em massa (o que aconteceu: estima-se que foram já administradas mais de 8 mil milhões de doses em todo o mundo), após não poucos anúncios acerca da formidável eficácia das vacinas, após meses de confinamentos, restrições, recolheres-obrigatórios, máscaras, isolamentos, após «dias de libertação» e o raio que os parta - eis que voltámos praticamente à estaca-zero.

De resto, o movimento já se ensaiava há duas ou três semanas.

Por cá, tornou-se ao Estado de Calamidade - com efeito a partir da meia-noite deste 1º de Dezembro. Recuperaram-se restrições antigas, reforçou-se a obrigatoriedade oficiosa da vacinação (isto nas vésperas de alargar a toma às crianças entre os 5 e os 11 anos), implementaram-se restrições cumulativas. Por exemplo, uma visita a um lar ou a um hospital passa a requerer certificado de vacinação mais teste negativo.


Noutras paragens, a pressão em relação à vacinação atinge novos máximos. Depois do «passe verde» italiano, a Grécia anuncia multas para os não-vacinados maiores de 60.


É fundamental manter um registo de toda esta bizarria, por mais imperfeito e inconsistente que seja.
Para memória futura.

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