Mensagens

A mostrar mensagens de 2007

Onde se fala de ferrero rocher com amor, de aquecimento global com despudor e onde cada frase emana um certo mau odor

O aquecimento global é um problema do caraças. Digam o que disserem, é, e não me venham com tretas. Houve até já quem, mui graciosamente, me perguntasse «concordas com isto do aquecimento global?», mas eu preferi fazer de conta que o café do dito-cujo tinha levado cheirinho em demasia e então chamei o empregado e pedi que lhe trouxesse um outro, desta vez sem xiripiti. Mas dizia, as suas implicações são teoricamente infinitas, basta que a gente dê corda aos sapatos e busque aqui, além e acolá, aqui em casa, além no armário, acolá no frigorífico, e teremos uma percepção mais real do imbróglio em que nos meteram. Sim, meteram, não me venham cá com estórias também em relação a isto, que nós não temos culpa de nada, eu, pelo menos, lavo as minhas mãos, que se isto está assim é porque, enfim, houve uns e outros que não quiseram saber, largaram, emitiram e por aí adiante e agora amanhemo-nos, não há volta a dar, estamos condenados, seja a restrições brutas, seja a um calor impossível. Em sum

Exercícios de escrita: diálogos saramagueanos.

Na esplanada da praia Olhando agora o céu azul, as fofas nuvens que espaçadamente por lá vagueiam, aquele sol que tinge a linha acima do oceano de um amarelo quente, quem diria que ontem, noite dentro, a terra foi esventrada das árvores, as telhas abandonaram as vigas e as placas dos telhados, a minha mesa do quintal dançou como uma marioneta de trezentas gramas, Ninguém, É só isso que dizes, Que mais queres que te diga, Então estive aqui a esmerar-me a escolher palavras para descrever este contraste bruto como quem escolhe e mistura tintas para pintar uma paisagem campestre e tu só me atiras um monocórdico ninguém, Querias o quê, então, Pá, sei lá, queria um bocadinho de consideração, de igualdade de tratamento, não penses que é hábito meu andar a vasculhar o dicionário da cabeça para dar ignição a uma conversa de café, Então por que o fizeste, Ora essa, porque achei que assim me tornava interessante, que te agradava, que te captava a atenção, sei lá, E que te leva a crer que não fize

Apontamento sobre James Watson, "à James Watson"

James Watson é velho. E todos sabemos como são alguns velhos: teimosos, recalcados e espalhafatosos. De facto, não basta afirmar que o incontornável e incontrolável passar dos anos acarreta algum tipo de conhecimento prático, de sapiência ou, até, de rica vivência; não basta a ilusão de que a capacidade de discernir entre o certo e o errado, entre o bem e o mal, entre o bom e o mau, seja uma decorrência da monótona e imparável escorrência dos dias, das semanas, dos meses, anos e décadas, até à confortável mortalha do acrítico elogio póstumo, que admiravelmente se perpetua por superstições e maus hábitos. Mas não só: quando, do alto do edifício Nobel, atirou que "os negros são menos inteligentes que os brancos", Watson nem parece ter reflectido sobre o que raio é isso de inteligência . Pois se inteligência for real poder de argumentação, de exposição e de raciocínio, se inteligência for ver além das vendas seculares do preconceito racial, sexual e estético – então James Watson

O que é um blogue?

De quando em vez ouço a “Janela indiscreta” (Antena 1, 18h00), de Pedro Rolo Duarte (PRD). Em síntese, pode-se dizer que é um programa que fala da chamada blogosfera . Em que são promovidos alguns blogs , em que são lidas algumas passagens, onde se tenta fazer uma radiografia da tal esfera bloguista. Bom, no programa de hoje [19 de Outubro de 2007], por ser sexta-feira, foi eleito o “ Blog da semana”. De facto, foram eleitos “não um, nem dois, mas três blogs ”. Quais? Os de Miguel Portas, António José Seguro e Pedro Santana Lopes. Porquê? Honestamente, não sei bem. De qualquer modo, não era por aí que queria pegar. O que me fez alinhavar um post foi exactamente uma breve descrição das características que, segundo PRD, um blog deve ter. Ora bem: “impressionista, imediatista, escrito na primeira pessoa”. Porquê? Sinceramente, não faço ideia. E é então por aqui que quero pegar. E, para pegar, largo que: enumerar as melhores características dum blog passa, em grande medida, por defini

Um dia no estágio

Observava-o da minha cadeira já há alguns minutos: os olhos experimentados brilhavam-lhe debaixo dumas sobrancelhas arqueadas de júbilo, e um fio de baba luzia ao canto dos beiços, trementes de emoção. Do piso cimeiro, todo emoldurado com arcos perfeitos, madeirinhas azuis e tectos de um branco reluzente, o sr. João, ancião que anda nestas andanças há uma trintena de anos, apesar de apenas as ter começado depois de aposentado – e por aqui se vê a sua venerável idade –, antevia um dia melhor que os dos últimos tempos, uma “invasão de gente”, pois havia aí na terra boda nupcial e acabava de chegar um autocarro duma excursão. Desde que aqui estou, faz hoje uns quinze dias, que o ambiente do recinto é, digo-o sem ironia, um paradigma de refrescante calma: o constante jorrar da água no piso térreo e no imediatamente abaixo, admiravelmente conjugado com a música ambiente, concedem ao espaço um génio dalgum modo bucólico, calmante e respeitável. Até os utentes que por aqui passam são, por mot

"hi5 e a imagem", de 13 de Dezembro de 2005

Rogando uma boa dose de condescendência a V. Senhorias, tomo a liberdade de copy & paste - em solene homenagem ao viçoso jeito académico de concretizar tarefas escolares - uma pequena e inocente mensagem que larguei aí num outro sítio, faz agora uns quase dois anos - o que, parecendo pouco, ainda é um pedacinho. Enfim, isto será como uma pomposa 2ª edição, convenientemente assinalada na capa com um autocolantezinho redondo na capa, toda ela baseada, notem bem, numa (1) mensagem positiva (num total de 1 mensagem(ns) recebida(s): 1/1: 100% de sucesso) que recebi de um perfeito desconhecido frequentador daqueloutro lamaçal virtual. Claro está que isso é um sucesso de arromba, um feito, um marco que se reveste de importância equivalente a um disco de platina ou a um globo de ouro e que, como é evidente, justifica, contra qualquer precipitada objecção, este post . Muito agradecido. " Aqui há uns dias recordava com um amigo meu os nossos tempos de mIRC . Não que tenha sido há muito
Tinha a boca escancarada num riso grotesco, que realçava a dentadura horrenda, de presas enormes, espaçadas a ponto de entre elas caberem dedos mínimos - uns dentes amarelecidos do café, acizentados do tabaco, esverdeados da falta de escovagem, a boca enorme deformada num esgar de atrofio muscular; os olhos, saídos e amarelados, cheios de pequeninos veios encarnados, sob um sobrolho aparentemente cansado, brilhantes da cerveja; a testa, pequena e abaulada, vincada de sulcos sebentos; o cabelinho curto, mal aparado, crespo e oleoso, salpicado aqui e ali por crostazinhas de caspa; a voz, simplesmente animalesca, como um grunhido cavo, às vezes rouco, como a rosnar, outras vezes agudo, como um silvo; o andar, tosco e nervoso, como um espasmo contínuo, deixava gravada a impressão de estarem os ossos a esticar até ao limite a pele seca e curtida, quase a esgaçá-la encarniçadamente em rasgos dolorosos; de resto, todo ele era ossudo: a fuça longa, os ombros encovados, as manápulas pejadas d

NÃO É PRECISO DESPARASITAR A AR COISA NENHUMA

"NÃO É preciso desparasitar a AR" é uma das possíveis conclusões do mais recente estudo conjunto levado a cabo pela Universidade Católica, Antena 1 e tungazunca.blogspot.com . À constatação/questão "É preciso desparasitar a AR. Certo?" , mais de 66% dos inquiridos respondeu que, dito de modo franco e objectivo, se estava cagando para isso. De realçar que nenhum dos respondentes indicou "Certo! E rápido!" como sendo a sua posição, o que pode indicar algo interessante. Dizer ainda que mais de 16% dos inquiridos admitiu não pensar - o que é, obviamente, surpreendente. Finalmente, 16% dos sondados afirmou que "Então aquilo está tão limpinho!" , tendo já os especialistas atribuído este valor à acção do pujante lobby das Senhoras da Limpeza da prestigiada assembleia. De acordo com os especialistas em sondagens e estudos já ouvidos, existe um conjunto de factores que é preciso ter em conta no momento da análise a estes polémicos resultados. Designa

9 da manhã

Entro na papelaria, Quero um Público, se faz favor, senhor José - um público que me ouça com atenção, sem preconceito, que me considere, me aponte erros, imperfeições, qualidades, que pense, que reaja, que seja - São noventa cêntimos, Aqui tem, Obrigado, Obrigado, até amanhã.

Bastam 1 minuto e 11 segundos

Favor clicar aqui . Os blogs são uma vergonha. Pinto Monteiro, Procurador-geral da República

Uma mão cheia ou Uma estalada

1) De acordo com os meios de comunicação, estruturas do PS organizaram e custearam romarias de idosos de Cabeceiras de Basto, Famalicão e Alandroal com a capital como destino. Sob a capa de excursões domingueiras por Mafra e Fátima, e sem disso terem conhecimento, estas pessoas foram transportadas até Lisboa para fazer número nas comemorações da vitória eleitoral de António Costa nas intercalares alfacinhas. No último debate da nação, na AR, Ana Drago denunciou esta situação em tom de protesto. Tentarei agora reproduzir da forma mais fidedigna e rigorosa o que se disse a esse propósito: Ana Drago: (...) e a fim de terem mais gente nas ruas após os resultados das intercalares lisboetas, os responsáveis do PS trouxeram gente do Alandroal, Famalicão e Cabeceiras de Baixo, o que... Bancada do PS, em coro, entre gargalhadas e apupos: De Baixo! De Baixo! De Basto, senhora deputada, de Basto...! Ana Drago: Sim, Cabeceiras de Basto. De qualquer modo, ... A partir daqui, a participação por

Domingo tá bom é prà praia, pá!

A ignorância é uma merda . Os ignorantes que o sejam por vontade própria, que se pavoneiem como não o sendo ou, pior ainda, os que o sendo ainda lhes vêm concedido o direito de voz pública nalgum meio de comunicação: são desprezíveis. Veja-se um caso eventualmente sintomático: Manuel Falcão, jornalista do Meia Hora. Em artigo de opinião na segunda página, intitulado "Dia 15 vou abster-me", este senhor aparentemente cinquentenário exprime a sua indignação com a campanha eleitoral das intercalares de Lisboa e candidatos envolvidos - e, se bem que sem grande eloquência e fundamentação lógica, com razão (digo eu). Bom, reza assim o último parágrafo do dito artigo: « Neste panorama, com mais de uma dezena de candidatos, nenhum com ideias interessantes, nenhum com claras capacidades de liderança, que me resta fazer? - A resposta, para mim, é evidente: abstenção, a única maneira de mostrar o meu protesto pessoal pela cada vez maior degradação do regime e pela maneira como os partido
Prezados e improváveis leitores , Qual ancião presciente e paternal, aqui registo um curioso agoiro, que eu cuido tornar-se-á tenebrosa realidade pouco tarda. Ligeiro vai o passo para uma certamente indesejável conjuntura: em que «liberdade individual» nada mais será que um conceito inoperante e dificilmente aplicável ou observável na sociedade portuguesa (e até faço por me demitir a uma visão mais alargada, a nível europeu). E não precipitem vós-outros um julgamento de que estou meramente conjecturando, para mais exageradamente! 1 Efectiva, porém inconclusivamente, a nossa choldra tem vindo a ser governada por um grupo ascoroso de animais obscenos e autocráticos que, por ser para vossemecês, uso um eufemismo: se estão bem cagando para nós, impotente e manipulável povo. Cada vez mais descarados (pois, por meios próprios, gozam de comprovada e angustiante impunidade a qualquer tipo de justiça e punição), esses merdosos doutores e engenheiros, dignos de lhes verem atribuídos o epíteto de
Imagem
Comentem, sff. Obrigado. * fonte própria

Movimento perpétuo

Quanta impotência! Esgotamo-nos em conversas de café e de jantar mais, ou menos, acesas, com maior ou menor grau de revolta, com fundamentação ou apenas com maledicência - que se vê de sobremaneira difundida, eventualmente liberada e valorizada de forma a controlar e manter os ditos (na perspectiva dalguns, ditosos) "brandos costumes" dos portugueses. Tantas são as falácias propagandeadas pelos nossos políticos, tal é a abrangência e a magnitude da corrupção e do nepotismo, tantos os princípios e comportamentos errados que todos temos; de tal modo que estaremos arredados dalgum dos vários caminhos positivos existentes, e com que ímpeto fatalista insistimos em fechar os olhos a esta situação - que impotência !, exacerbada pela popular desistência - ao ponto de ter cabimento fazer uma cortante pergunta retórica: achas que Portugal vai, algum dia, melhorar? No âmbito governamental e de políticas de desenvolvimento, insiste-se em megalomanias da conveniência exclusiva dos megalóm

"If you´re not affected then you´re not paying attention!"

AAH! O nosso triste, soturno deprimente-revoltanteAH! cosmos político está atulhado, oh, imundíce! , De pessoazinhas mesquinhas, reles p aranóicas-neuróticas AH! , com as suas questiúnculas umbiguistas, De homenzinhos rasteiros, complexados-afectados AH! , com as suas disputas desprezíveis pelos poleiros e pelos tachos, De seres vazios, espartilhados ... é confrangedor ... Os vossos desideratos devassos fazem-me urticária AH! Eis o que sois: balofos, cabeçudos, c´os vossos enganadores bureis, aninhados junto dos vossos correlegionários! Não passam de ordinários comensais na mesa de nós-todos AH! , Oh, animais! ENOUGH, ENOUGH, ENOUGH! Fico cheio de fezes. Vou cagar.

Os Sem Grandes Portugueses (?)

Imagem
É muito interessante consultar e submeter a análise a lista obtida através do programa "Os Grandes Portugueses" da RTP1. Nalguns casos, p´la própria eleição de algumas figuras, noutros, p´los lugares de destaque que lhes foram atribuídos. Noutros ainda, por ambas as coisas! Para ilustrar, sem mais delongas, vejam-se alguns casos ( abrir lista «90 mais» ): 79.º Hélio Pestana (!!!) - Deu um contributo fundamental na formação de várias gerações de jovens portugueses com a sua participação na série juvenil Morangos com Açúcar. Qual Gil Vicente! Qual Almeida Garrett!; 76.º Ricardo Araújo Pereira (!!) - Deu um contributo ímpar na criação de conteúdos para conversas de café e imitações (más) em ambientes familiares. Maior do que o de Bocage, sem dúvida; 69.º Cristiano Ronaldo (!!) - Deu um contributo inolvidável para todos os portugueses que jogam nas alas ou em apoio directo ao ponta-de-lança, bem como aos portugueses marcadores de livres e de pontapés de canto. D. Maria II?

Sobre o referendo de 11/2

Imagem
Há certamente muito a dizer sobre o referendo do próximo mês. Em primeiro, parece-me importante vincar bem a ideia de que vai a votos a despenalização da prática do aborto, e não a temática do aborto, em geral (patente na pergunta corriqueira por ocasião dalguma troca de palavras acerca do referendo “ Tu concordas com o aborto? ”) ou a sua liberalização – e há quem aponte que a pergunta que vai a referendar está mal formulada, que se refere mais a liberalização que a despenalização – levanta-se o véu da suspeita de que todo este alarido será mais areia para os olhos que um verdadeiro levantamento popular? Em segundo, ocorre-me dizer que subjaz ao referendum de 11/2 um mal (eventualmente) menor: ou Sim ou (no caso, não se tratam de sopas ) Não. Ou se está a favor ou se está contra. Ou se está connosco ou se está contra nós. Ou se escolhem o modernismo e a liberdade ou se escolhem os pensamentos retrógrados e sexistas. Ou a libertinagem, a desresponsabilização, ou a prevenção, os val