Os Sem Grandes Portugueses (?)

É muito interessante consultar e submeter a análise a lista obtida através do programa "Os Grandes Portugueses" da RTP1. Nalguns casos, p´la própria eleição de algumas figuras, noutros, p´los lugares de destaque que lhes foram atribuídos. Noutros ainda, por ambas as coisas! Para ilustrar, sem mais delongas, vejam-se alguns casos (abrir lista «90 mais»):
  • 79.º Hélio Pestana (!!!) - Deu um contributo fundamental na formação de várias gerações de jovens portugueses com a sua participação na série juvenil Morangos com Açúcar. Qual Gil Vicente! Qual Almeida Garrett!;
  • 76.º Ricardo Araújo Pereira (!!) - Deu um contributo ímpar na criação de conteúdos para conversas de café e imitações (más) em ambientes familiares. Maior do que o de Bocage, sem dúvida;
  • 69.º Cristiano Ronaldo (!!) - Deu um contributo inolvidável para todos os portugueses que jogam nas alas ou em apoio directo ao ponta-de-lança, bem como aos portugueses marcadores de livres e de pontapés de canto. D. Maria II? Nem nunca foi convocada para a selecção!;
  • 66.º Vítor Baía (!!) - Deu um contributo importante a todos os que quiseram retirar da sua acção e postura (na baliza) alguma coisa de meritório e exemplar. E tem mais títulos que Bartolomeu Dias. Aliás, não há quem tenha mais que ele;
  • 52.º Alberto João Jardim (!!) - Deu um contributo em muito semelhante ao de Ricardo Araújo Pereira, tirando que não foi, pelo menos inicialmente, de propósito. E obrigou todos os madeirenses a irem à internet votar nele, sob ameaça de extradição para os Açores. E diz que pinta uns quadros de fazer inveja ao Almada Negreiros...;
  • 48.º (!) José Sócrates - Ainda hoje dá um contributo marcante para todos os portugueses: basta ir à AR e ouvir ou ligar a TV e ver. E depois chorar. Ou rir. Dependendo do grau de abstracção da realidade. Tem uma vantagem considerável sobre a Padeira de Aljubarrota: existe mesmo;
  • 30.º (!) Luís Figo (!) - Deu um contributo incomensurável à língua portuguesa sempre que se pronunciou nos meios de comunicação social (a par, aliás, de outros nomeados). José Saramago, Sophia de Mello Breyner e Padre António Vieira pecaram penosamente nesse campo;
  • 26.º (!!) José Hermano Saraiva - Deu um contributo fantástico para a televisão em Portugal. Sem ironia, pouco, ou mesmo nada, mais. Humberto Delgado apenas morreu em nome de um ideal;
  • 20.º (!!) José Mourinho (!) - Deu um contributo valoroso para o sucesso de Porto e Chelsea, ambos com parcelas consideráveis de intervenientes de nacionalidade portuguesa. Agostinho da Silva, Eça de Queiroz e Egas Moniz nunca passaram do 4-4-2 defensivo;
  • 17.º (!!) Pinto da Costa (!!) - Deu um contributo maravilhoso ao país, nomeadamente exemplificando de forma descarada como pode ocorrer o metamorfismo socio-cultural nacional de «Zé Povinho» para «Chico Esperto» e consequentes resultados;
  • 15.º Eusébio (Parabéns, Pantera, pelo 65º aniversário!) - Deu um contributo pujante naquele jogo contra a Coreia, quando Portugal perdia 3-1... e ao Benfica!, também contribuiu valorosamente para o Benfica! E...eh... pronto.
Ademais, não são de desprezar as nomeações de critério duvidoso da Irmã Lúcia, de Jorge Sampaio, de Herman José, de Belmiro de Azevedo ou de Ruy de Carvalho, entre outros poucos.

Mais a sério, mas não muito mais - quanto aos 10 mais, destacam-se, a meu ver, duas nomeações:
  • António de Oliveira Salazar - Deu um contributo de avaliação complexa para o estado de espírito, para a mentalidade, para a, enfim, alma portuguesa, da época e de hoje, naturalmente. Se não tivesse existido, Portugal seria hoje muito diferente do que é? Estaria melhor? Será que, caso fosse vivo, Salazar quereria constar numa lista deste género? Importa ainda salientar o seu contributo para a nomeação de Álvaro Cunhal, Mário Soares, Humberto Delgado, e outros;
  • Marquês de Pombal - Deu um contributo assinalável na retórica e acção política em Portugal e, quiçá, na Europa e arredores, declarando-se, paradoxalmente, um «déspota iluminado». A reconstrução da baixa lisboeta teve, na verdade, como principal objectivo a manutenção geográfica dos espaços historicamente associados a julgamentos imparciais e a manifestações de tolerância. Que ele, ao que parece, apreciava.
Esta votação vale o que vale - e não vale muito, não é verdade? Enfim, tanto já se disse à volta dos seus resultados que achei que era simpático bolsar umas achegas.
Obrigado por este bocadinho.

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