O que é um blogue?

De quando em vez ouço a “Janela indiscreta” (Antena 1, 18h00), de Pedro Rolo Duarte (PRD). Em síntese, pode-se dizer que é um programa que fala da chamada blogosfera. Em que são promovidos alguns blogs, em que são lidas algumas passagens, onde se tenta fazer uma radiografia da tal esfera bloguista.
Bom, no programa de hoje [19 de Outubro de 2007], por ser sexta-feira, foi eleito o “Blog da semana”. De facto, foram eleitos “não um, nem dois, mas três blogs”. Quais? Os de Miguel Portas, António José Seguro e Pedro Santana Lopes. Porquê? Honestamente, não sei bem. De qualquer modo, não era por aí que queria pegar. O que me fez alinhavar um post foi exactamente uma breve descrição das características que, segundo PRD, um blog deve ter. Ora bem: “impressionista, imediatista, escrito na primeira pessoa”. Porquê? Sinceramente, não faço ideia. E é então por aqui que quero pegar. E, para pegar, largo que: enumerar as melhores características dum blog passa, em grande medida, por definir os blogs, no geral.
Largado isto, vejam-se duas hipóteses opostas:
a) o largado é verdade: se PRD afirma que um blog é “mais blog” por ser “impressionista, imediatista, escrito na primeira pessoa”, é porque provavelmente crê que um blogue não deve ser fundamentado, ponderado ou (menos importante) escrito com sujeito indefinido. Porquê? Boa pergunta. Em sentido contrário, creio que se os blogs não forem além dos formatos «diário» e «auto-promoção» (política incluída) que parecem vingar por essa blogosfera fora, perderão toda a credibilidade e propriedade para servirem de alternativa (individual, livre, espontânea) aos prepotentes e afectados mass media e, paralelamente, para darem voz ao cidadão corrente, ao indivíduo anónimo – que eu julgo que devem também servir.
b) o largado é mentira: se PRD afirma que um blog é “mais blog” por ser “impressionista, imediatista, escrito na primeira pessoa”, é porque provavelmente foi notando que o panorama geral da blogolândia (estou enfartado de “blogosfera”) aponta exactamente nessa direcção: os blogs (como, aliás, é do direito dos seus autores) servem a auto-promoção e o desabafo – e pronto. Suficiente? Não sei.
Onde quero então chegar com este discurso? Humildemente, digo que: os blogs, como novo meio de comunicação, ainda que, por natureza, acessíveis à massa informe, imensa e anónima, devem responder a alguns princípios de qualidade, de exigência, de pertinência, de coerência e de liberdade; isto é, não convém, a bem da sua crescente relevância socio-política, da sua credibilização e da maximização das suas potencialidades, que se cinjam a meros impressionismos imediatistas, escrevinhados na, sobre e, tantas vezes! para a primeira pessoa.
Apontamento último: um blogueiro (isto hoje é neologismos a dar com um pau) ou, dito de forma mais clara (e precisa), um sujeito que se interesse por blogues (qualquer dia temo-los especialistas, peritos ou, quem sabe! blogólogos), não buscará, digo eu, a opinião dos falantes do costume, como é o caso dos bloggers eleitos desta semana, pois esses já povoam confortável e pachorrentamente o estrito e inquinado monopólio da opinião pública, veiculado através dos vários meios de comunicação de massas, inclusive os escritos; buscará, digo eu, as opiniões dos votantes desconhecidos, dos cidadãos comuns, dos trabalhadores normais, dos estudantes incógnitos, daqueles que, em suma, repetidamente se vêem remetidos para a castrante posição de mudos espectadores – e nunca nada mais.
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Desejos de boa sorte para a “Janela indiscreta”.

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