Prezados e improváveis leitores,
Qual ancião presciente e paternal, aqui registo um curioso agoiro, que eu cuido tornar-se-á tenebrosa realidade pouco tarda. Ligeiro vai o passo para uma certamente indesejável conjuntura: em que «liberdade individual» nada mais será que um conceito inoperante e dificilmente aplicável ou observável na sociedade portuguesa (e até faço por me demitir a uma visão mais alargada, a nível europeu).
E não precipitem vós-outros um julgamento de que estou meramente conjecturando, para mais exageradamente!
1 Efectiva, porém inconclusivamente, a nossa choldra tem vindo a ser governada por um grupo ascoroso de animais obscenos e autocráticos que, por ser para vossemecês, uso um eufemismo: se estão bem cagando para nós, impotente e manipulável povo.
Cada vez mais descarados (pois, por meios próprios, gozam de comprovada e angustiante impunidade a qualquer tipo de justiça e punição), esses merdosos doutores e engenheiros, dignos de lhes verem atribuídos o epíteto de oligárquicos, vão castrando toda e qualquer oposição e crítica: suspendendo professores, exonerando directoras de centros de saúde, alterando designações estatutárias de jornalistas ou processando autores de blogs; criando um clima de medo de retaliações prepotentes, fomentando a burrice entre as gerações mais novas, levando ao limite a precariedade do emprego ou propiciando a re-proliferação de bufos (ao que chegámos!).
2 Paralelamente, o zé ninguém vê-se espezinhado e domesticado por hierarquias profissionais e demais vicissitudes corporocráticas, fundadas em tudo menos nalgum tipo de justiça e mérito, e afundado na inutilidade dos milhões de horas que gasta no local de trabalho e no trajecto que o liga de volta a casa - sendo que, ao fim dessa ora enlatada, ora engarrafada (ou um pouco d´ambas!) jornada, dá de caras com criminosas despesas de crédito habitação e outras que tais.
Janta triste e esgotado demais para pensar e discorrer sobre o que quer que seja por mais de 3 minutos. Acto contínuo, já de peida obesa alapada no sofá, perde-se em infindáveis e estupidificantes telenovelas ou em ocasionais e não menos exasperantes partidas do régio desporto, enquanto pachorrentamente enjeita a boca ao cigarro - pequeno falo que as pontas acizentadas e fedentas do indicador e polegar masturbam até à prejudicial e cara ejaculação do fumo, que mais parece o fragmentado escarrar do espectro da há muito perdida consciência crítica.
Na ressaca desta embriagante conjuntura (ou conjura!), a que se juntam ainda, imensas, outras lúgubres realidades, que há a esperar do futuro?
Bom, reitero: ligeiro vai o passo para uma certamente indesejável conjuntura: em que «liberdade individual» nada mais será que um conceito inoperante e dificilmente aplicável ou observável na sociedade portuguesa.
Em breve, porventura, quererá a massa um novo salazar, em virtude duma trintenária amálgama de expectativas goradas, demagogias vigentes e tabus históricos de já olvidadas chagas. Ou, mais provavelmente, não irá além do queixume sussurrado, do ai do nosso triste fado.

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