Especialistas e farmacêuticas: uma relação curiosa

O Expresso noticia que Filipe Froes, consultor da DGS, coordenador do Gabinete de Crise contra a COVID-19 da Ordem dos Médicos e membro do Conselho Nacional de Saúde Pública, "recebeu €385 mil das farmacêuticas desde 2013"


O semanário nota que a Pfizer e a AstraZeneca, duas destacadas fabricantes de vacinas contra a COVID-19, se contam entre o grupo de farmacêuticas que financiaram o especialista. E especifica: "Só em 2020 e 2021, por exemplo, Froes recebeu da Pfizer €26.407 (...)".
Estes dados foram retirados da plataforma online «Transparência e Publicidade», do Infarmed, acessível aqui.

Fui lá dar uma olhada. Escrevi "Pfizer" e cliquei «Pesquisar». Lá está, logo na primeira página de 2021, uma referência a Froes:

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Não revi os números avançados pelo Expresso, mas são várias as declarações que envolvem Filipe Froes. Além dos já referidos, outro agente que declara pagamentos a este especialista é a Gilead Sciences, fabricante do anti-viral remdesivir, fármaco que Portugal, num contrato de aprox. €35 milhões, adquiriu em finais do ano passado.

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Enfim, é público que médicos e investigadores recebem pagamentos e outros benefícios da parte das farmacêuticas a pretexto de conferências, colóquios e demais apresentações públicas. Mas desde Março de 2020 que vivemos em Estado de excepção e figuras como Filipe Froes, presença assídua nos media, são instrumentais a essa dinâmica. Que recebam dinheiro de alguns dos principais beneficiários da actual crise pandémica é curioso.

Outra coisa houve que me ficou na retina: a Pfizer farta-se de fazer pagamentos. São noventa e cinco (95!) páginas de resultados, só este ano. É obra.

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Fiz outro teste. Peguei no nome do médico que surgia logo acima daquele registo inicial de Froes, Prof. Luís Varandas, e fiz uma breve pesquisa.


Por "2 Palestras Comerciais" e por "Consultadoria Abril e Maio 2021", a Pfizer pagou €5500 a Varandas. Antes tinha já pago €1722 por "Consultadoria Nov 2020".

Fiz nova pesquisa na plataforma do Infarmed, desta feita com "Astrazeneca". Um nome que surge várias vezes como destinatário de pagamentos da farmacêutica é o de Hélder Mota Filipe, professor e ex-presidente do Infarmed - outro especialista que opina frequentemente nos media.

A confusão adensa-se.

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