Quarta-feira
Subo já daqui directo a algum sítio. Qualquer. Para que, vendo-me por fora, fiquemos a pensar que sei para onde caralho vou, para onde caralho quero ir. Não parar. Não abrandar. Como tivesse ond’ir. E horas. Uma finalidade. Mesmo que mentirosa. . Minha caligrafia não é minha, mas de minhas mãos. Minhas mãos não são minhas, mas de meus braços. Meus braços não são meus, mas de meu tronco. Meu tronco não é meu, mas de meu corpo. Meu corpo não é meu, mas dos outros. . A matéria disposta como pretensa denúnica, o estilo urbanizado, populoso, como jorro de porcas & parafusos, um escrever palavroso, adolescente. Começa assim. Depois muda. Muda o conteúdo, o outfit, o layout, a maquilhagem. Caem as coisas complicadas; prevalecem as simples. Como o amor ou a felicidade. Não há aqui espaço à ironia. A ironia não ocupa espaço, como se diz do saber. A ironia é o espaço, a sala-de-estar, o cosmos, o útero. A ironia é tudo e então não lhe reservo espaço: onde já se ...