Pensamentos matinais
Um casal que aqui passou vindo da esquina. Vinham de mão dada, ela na dianteira. Ele dava para o gordito e era careca, desses carecas só de cocuruto e franja, a toda a volta do crânio uns fiapos de cabelo ainda visíveis, ralos e translúcidos, enfim, uma negação de qualquer ordem. Ela era discretamente agradável, tinha umas feições regulares e umas cores, do cabelo, dos olhos, da pele, sadias. Denotava brio na toilette, os tecidos ricos e largos em tons de terra todos aprumados em negligências calculadas. Mas ei-los que saem já do café, as mãos ainda dadas, despacharam a bica enquanto, sentado na esplanada, lhes refazia a imagem de memória, e ela continua na frente, ele vem meio-braço atrás, à laia de atrelado. Ela leva o queixo lançado, dá passos decididos, trá-lo, objectivamente, pela mão. Enquanto eles se afastam, dou por mim a pensar que ela está com ele porque se sente mais bonita ao lado de um homem que não o é. E vou imaginando-a crescendo sem compreender a falta de reconhecime...