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A mostrar mensagens de março, 2010

Diário de um índio: popular felicidade pateta

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Sem que alguém lhes dê essa ordem, os artistas (em especial músicos e escritores) proclamam a felicidade das mais variadas sortes. À falta, porém, de algo real a que reportar, esses artistas (que não são todos, apenas os mais populares) optam pela expressão e expansão da patetice. Dizer felicidade torna-se, destarte, coisa armadilhada. A popularidade que sem embargo (ou justamente por isso) angariam constitui-se como a motivação primordial e a justificação derradeira da sua acção.

T0 airoso e mobilado Lisboa centro

Desembarquei numa paragem cheia de pessoas de calças de ganga em indiana fila. O sol atirou-se-me à testa, perlou-a de um suor pegajoso. Dei duas miradas em volta para tomar o norte e acabei por tomar por uma viela medieva a feder a mijo à minha mão esquerda. Tão entretido ia a evitar as bostas (de cão?) que atapetavam aquela parte da cidade que foi como ir a dormir numa viagem de autocarro: nem dei que já chegara. Salvo erro, era só dobrar a esquina defronte. (- Deve ser isto) Um montículo negro especado junto a uma portada de madeira que emoldurava outro montículo negro indicava o sítio, à laia de X no mapa dos piratas. À minha abordagem - Boas tardes, venho visitar o tê-zero airoso e mobilado, eu liguei-lhe anteontem à hora de almoço, recorda-se concerteza o primeiro montículo, que, ou muito me engano, ou faria puzzle na minha axila, pirou-se com um monossílabo indistinto que a da janela retribuiu sem desviar as lâminas dos olhos de mim. Não desolhou por uns segundos mais, até que, ...

Jonas Brothers, Breed e Felicidade

Ligam-me para mais uma entrevista de emprego. "- Eu dou-lhe a nossa morada. Tem onde apontar?" "- Só dois segundinhos." Falta-me caneta. Vou buscar uma ao quarto da minha irmã. "- Está? Pode dizer." Desligo. Tenho de ir fazer a barba e escolher uma camisa. A caminho do meu quarto, passo novamente pelo da minha irmã. É um templo de adolescente. À falta talvez de talha dourada ou mármore branco, impera o poster A3: na porta de entrada (frente e verso), nas portas do armário (idem), nas paredes, na estante. A preferência dela é clara: vejo repetidas quase sempre as mesmas três caras. Jonas Brothers. Subo ao meu quarto e lembro-me dos jonas brothers da minha adolescência (mais coisa menos coisa). Também eram três, também tinham uma banda, também eram norte-americanos. Reconheço, contudo, que, entre uns e outros, existam uma ou duas diferenças... Devo dizer que me faz espécie esta nova geração de ídolos musicais (e não só). Produtos de um Mundo Disney, são... f...

Do sexo

O dia amanheceu-se-lhe de bexiga por vazar. Estacou à borda da retrete: o olhar absorto perdido nas juntas dos azulejos azul-cueca. Por razão nenhuma deu uma guinada no olhar e então reparou numas farripas quase invisíveis de pintelhos muito familiares naufragadas à boca do ralo do polibã. Hoje é dia, terá pensado, enquanto sacudia os derradeiros pingos de mijo. Deu meia-volta e abriu a torneira do lavatório para lavar os dentes. Disse em voz alta para o espelho: Hoje é dia pá. Sabia os dias de cor e desde há muito que penugem aparada era igual a queca programada. Disse outra vez: Hoje é dia. Repetid as tamanhas palavras, porém, deu-se conta de que a presença daqueles pêlos negros na superfície sudada do polibã o incomodava. E muito. Rapadas no banho matutino, aquelas migalhas capilares eram um post-it onde a receptividade carnal da fêmea se declarava alto e bom som, lembrança dolorosa de uma líbido domesticada que o azucrinava. Indignou-se: Isto assim não pode ser pá (continuava a dir...