Domingo de votar
Eleições autárquicas, domingo de votar. Levo já o voto decidido, não guardo a escolha para depois. Escolhi logo na sexta, enquanto tomava o café na esplanada. Voto naqueles que buzinaram mais e mais alto e durante mais tempo e com a maior caravana de automóveis. Só lhes decorei a cor das bandeiras. Espero que o boletim seja a cores. Se, a bem da fazenda nacional, o boletim for a preto-e-branco, faço um-dó-li-tá. Mas em surdina. O acto é solene e impõe-se algum decoro. Numa eleição nacional, até ver, nunca fui capaz de votar em alguém. Como me chega o boletim, assim o devolvo, salvo que dobrado religiosamente em quatro e não sem antes ir para trás do biombo, guardar um segundo ou dois para despistar e só depois começar a dobragem. Isto é, com excepção dos referendos, só em autárquicas é que botei uma cruz. Mas isto sou eu, que venho de uma zona urbana, onde o distanciamento (de classe) social já era lei antes da pandemia. Quem cresce e vota numa zona menos urbanizada, testemunha vezes d...