Da poluição da atmosfera lisboeta

Olha os macacos, por exemplo. Os macacos. Os do nariz, sim. Experimenta caminhar aí uns trinta minutitos que seja aí pela Baixa, ou lá pelo Marquês, e isto para não falar de Saldanhas e afins. Pá, experimenta e vais ver. Quando deres por ti tens as fossas nasais forradinhas a burriés. Até te custa a respirar. O que, enfim, com franqueza, não tem só contras. Basta pensar nos deliciosos momentos de intimidade que, uma vez no conchego solitário do lar, terás só para ti e para o teu indicador (ou para o teu polegar, conforme te ajeites melhor). Em certa medida, tirar macacos do nariz é um bocado como fumar, naquilo que fumar tem de ritual. Ficamos como que contemplativos. Estou certo que muitas filosofias, inúmeras poesias, vibrantes ensaios, floresceram como camélias duns introspectivos minutos de falange em riste narina adentro. Já imaginaste o Fernando Pessoa a limpar o salão?

Mensagens populares deste blogue

Algo de errado se passa.

Desencontro, ou Enquanto as ervilhas cozem

Os números COVID-19: ou latos em excesso, ou inconsistentes, ou pouco consolidados