Breve porém séria apreciação dos oceanos e continentes, dos deuses e das gentes, onde se botam aspas na gíria da Ordem e que parece acabar a meio.

Cada vez são menos os que se aborrecem com a sua própria insatisfação perpétua. (Uns há até que se proclamam "contentes", o que, a não ser uma pobre mentirita, é sintoma de uma sensaboria atroz.) Isto, por norma, das duas uma: ou se fica a dever à mais elementar e insondável mitomania, flagelo quase tão soberano no espírito dos nossos concidadãos como a obesidade o é nos seus corpos; ou (quiçá por obra & graça de deus nosso sr. o consumo de Consumo - telefones móveis e anti-depressivos à cabeça) antes se trata de andarem os nossos concidadãos muito singela e ditosamente no mais perfeito alheamento.
Claro está que ter boa parte da "população activa"/progenitura em tamanho estado de dormência cerebral - além dos colossais benefícios económicos que traz no bico - é coisa que, com a pachorra e a certeza dum ácido, e por via da educação, da instrução, da imitação e da genética - entre outras de menor arcaboiço -, sempre vai carcomendo (ou ajeitando) os miolos dos nossos concidadãos mais novitos ("o amanhã", como são apodados pela poesia propagandística). Chama-se a isto "desenvolvimento sustentável".
Ajunte-se que cada vez são menos os que se importam com a perpétua injustiça que define as suas próprias comunidades. Tal indiferença faz-se ouvir na popular sentença: "já não tenho paciência para isto". Bem entendido, este «isto» designa o descomunal rol de corrupções e poucas-vergonhas a que cada um dos nossos concidadãos pode apenas assistir e sobre as quais sempre paira uma densa neblina postiça (ou postiça neblina densa). Debaixo desse pastoso manto, a comunidade fica ininteligível aos olhos dos nossos concidadãos. E, com franqueza, isso dá cabo da paciência a qualquer um.

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