"Um país à rasca"

Já a noite (e um aguaceiro forte) caíra quando, à saída do Starbucks dos Restauradores, me cruzei com três rapazes que desciam rumo ao Rossio. Um deles trazia um altifalante junto aos beiços e entoava: "Nós só queremos Marlboro a vinte cêntimos, Marlboro a vinte cêntimos, Marlboro a vinte cêntimos". Achei-lhes muita graça.
Uns minutos antes, o meu irmão tinha-me enviado uma mensagem de texto a dar-me conta que a manifestação era encabeçada por dois indivíduos de extrema-direita e que, inclusivamente, um deles trazia uma t-shirt com o Hitler estampado. Baseava-se certamente no que vira pela televisão ou pela internet, uma vez que me escrevia desde Mafra. Respondi-lhe que isso devia ser apenas um instantâneo televisivo e que, olhada do miolo, a manifestação não tinha cabeça.
Com efeito, lá do meio, a manifestação pareceu-me muito espontânea. Não tenho fé nas pessoas e não sou apologista deste tipo de protesto. No entanto, devo dizer que, nas mais de duas horas que levei a percorrer a Avenida da Liberdade, pensei muitas vezes que aquela gente merecia realmente melhor. A dado momento, cheguei mesmo a ver aquelas pessoas como vítimas de um sistema desumano e vil. E também bati palmas ao ritmo das bordoadas da malta dos tambores. E dei por mim contente de ter tamanha avenida preenchida de gente tão diferente a caminhar numa só direcção.
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