Do conflito israelo-palestiniano - observações avulsas

"Não é aceitável que um país seja ameaçado por rockets, mas é preciso que a resposta seja proporcionada. Seiscentos mortos é, evidentemente, algo que não se pode aceitar."
Laurent Fabius, MNE francês (DN, 23/07/14)

1 - Pegando no que disse Monsieur LF, algumas questões
A presente acção das forças militares israelitas é, rigorosamente, verdadeiramente, uma "resposta"?
O que é, num contexto como este, uma "resposta proporcionada"?
Até que número, em que quantidade, são os mortos aceitáveis? A partir de quantos passam a ser algo "evidentemente" inaceitável?

2 - "Barbaridade, s. f. acção própria de bárbaros; crueldade, desumanidade"
A presente intervenção militar do governo israelita é uma barbaridade. É injustificável e inadmissível.

Benjamin Netanyahu, PM israelita: "faremos o que for preciso para nos defendermos"; Ron Dermer, embaixador de Israel nos EUA: [os soldados israelitas] "deveriam receber o Prémio Nobel da Paz" [porque combatem o Hamas] "com uma contenção inimaginável" (DN, 23/07/14).

"A guerra justa que podemos fazer, segundo Santo Agostinho, é aquela que (...) defende o seu bando dos que injustamente o querem ofender, porque grande bem faz, diz ele, quem aos maus tira licença de fazer mal".
Fernão de Oliveira, Arte da Guerra do Mar (1555)

3 - Um hospital ou uma praia não se parecem com um túnel (normalmente)
A prática quotidiana da actual campanha militar israelita desmente implacavelmente todas as palavras dos seus responsáveis políticos & militares acerca das motivações e objectivos deste ataque.

4 - Dos mais de 700 palestinianos mortos até hoje (17.º dia), uma grande parte são crianças
"Eu não sou um rapaz mau. Não sou um rapaz mau. Sou soldado e o soldado não é mau só porque mata. Digo isto para mim porque um soldado tem que matar, matar, matar. Por isso, seu eu mato, estou apenas a fazer o que é certo".
Bestas de Lugar Nenhum, Uzodinma Iweala

5 - Distinguir o trigo do joio
"Nunca houve uma guerra prolongada com a qual algum país tenha beneficiado".
Sun Tzu, A Arte da Guerra (cerca de 500 a. C.)

É indispensável distinguir «país» (entendido como "povo") de «governo» (e «interesses»).

Entre os palestinianos, quantos não serão os que se sentem revoltados com o Hamas?
Morreram já mais de trinta soldados israelitas; como se sentirão os familiares e amigos desses homens?

(...)
Governo israelita pediu ontem mais 225 milhões de dólares ao governo norte-americano para reparar o escudo anti-míssil.
EUA anunciaram anteontem ajuda humanitária de 47 milhões de dólares destinada aos atingidos pela campanha israelita na Faixa de Gaza.
(...)

6 - Não existe tal coisa como "esforços diplomáticos da Comunidade Internacional" no sentido que por aí se lê
John Kerry, secretário de Estado norte-americano: "Estamos profundamente preocupados com as consequências do esforço legítimo e apropriado de Israel para se defender" (DN, 22/07/14).

Porque é que se tentou negociar um cessar-fogo que não incluía o fim do bloqueio (em vigor desde 2006) à Faixa de Gaza?

7 - Do lado de lá da insensibilidade
Chegam-nos, através dos jornais, relatos de famílias que se separam (mãe com filho, pai com filha) numa tentativa de aumentar a probabilidade de pelo menos uma parte da família sobreviver.

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