Com esta escola, que futuro?

"Turismo: movimento de pessoas para fora da sua área de residência por um período superior a 24 horas."

Paradoxo:
Turismo é, praticamente, tudo. Mas, bem vistas as coisas, não é nada.

Por um lado, pela sua interdisciplinaridade, é uma área que engloba diversas outras; por outro, não passa de um termo, de uma definição.

Pode-se dizer que engloba o meio de transporte, o alojamento, a restauração, a animação, o comércio tradicional, etc.; mas também se pode, legitimamente, dizer que cada um desses sectores funciona de forma independente, sem qualquer tipo de ligação - o que, diga-se, sucede habitualmente.

Vejamos um exemplo que cabe dentro da definição que encabeça este texto, definição essa que é a mais comummente aceite e utilizada pelos académicos e profissionais do sector: o João sai da sua casa de Lisboa, com direcção à casa da Maria, em Vila Franca de Xira. Antes de entrar na A1 e de pagar a portagem à Brisa, pára para abastecer na Galp. Uma vez chegado, vai às compras com a sua anfitriã ao Carrefour. Depois de jantarem uns panados da Iglo e de beberem uns copos de Alabastro, deitam-se e, para maior segurança, o João coloca um preservativo da Durex. De manhã, o lisboeta despede-se da Maria e regressa a casa.

E agora eu pergunto: isto é Turismo?

Por definição, curiosamente, sim. Isto é: os senhores da portagem, da bomba de gasolina, do hipermercado e, até, os dos contraceptivos - são todos profissionais turísticos!

Bom, posso estar a ver qualquer coisa mal, mas o meu raciocínio é lógico e a minha dúvida legitima: será que aquilo que se toma por Turismo corresponde à realidade?
Coloquei, de certa maneira, esta questão à coordenadora do meu curso. Ela disse-me, algo ofendida, que eu, estando no 3º ano (num curso de 4), não devia ter este tipo de dúvida e, um pouco depois disso, afirmou que não se devia pôr em causa as definições, ao qual perguntei porquê - não disse porquê. Será que isto funciona tipo religião?, pensei eu. Será que ela leu aquilo nalguma bíblia do Turismo e não pode pôr em causa, sob pena de ir para o... desemprego?

A juntar a este, tenho mais um episódio curioso que gostava de partilhar convosco: numa aula de História da Arte, no ano passado, a propósito do Romantismo em Portugal, veio à conversa o Palácio da Pena. Por perfeita estupidez, comentei que era caríssimo visitar esse monumento, ao que o meu respeitado e conceituado professor, coordenador de outro curso e várias outras coisas mais, respondeu, muito indignado: pois, visitar o Palácio da Pena é caro, mas um maço de tabaco e dois copos de whisky, não!, passando logo a outro assunto e não me dando espaço sequer a grunhir qualquer coisa em resposta. Preconceituoso até ao tutano, este senhor baseou-se, certamente, no meu gorro e na penugem que me cobre o queixo e o lábio superior de tempos a tempos.
Ah, falta-me acrescentar que não fumo e não bebo e que para visitar o monumento mencionado se pagam 7€, sem direito ao parque, que custa mais 4€.

Onde eu quero chegar é ao seguinte: que tipos de educação, noção social e sentido crítico se adquirem na escola?, quando alguns professores têm atitudes e ideias como estas?

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