Game boy
Terça-feira quente. A Avenida da Liberdade, forrada de prédios a toda a altura, atapetada de carros a toda a largura, abrasa debaixo do sol tórrido de Agosto. A atmosfera densa alia-se ao calor e traz os transeuntes transpirando. O barulho é rei todo-poderoso. A um par de metros de um banco borrado pelos pombos, na berma de uma das transversais da grande via, junto de um espaço livre entre dois carros, um janota de sua vintena de anos aguarda placidamente. Traja com brio, conforme o costume do sítio e da época. Jeans escuras de cintura ultra-descaída a exibir as cuecas e com a longa costura da perna a descrever um uu para a zona interior da canela, onde a calça afunila e cinge o tornozelo, mas sem bainha que se veja, à laia de fole. Ténis de pano e sola rasa, de marca conceituada; como, de resto, tudo quanto traz no corpo: a t-shirt à boys band, o relógio de grossa bracelete de pele, os estupendos óculos-de-sol, tudo a rebrilhar. A chave daquela expectante e curvada figura jaz-lhe entr...