A Ordem das Coisas


O actual modo de organização social e económica parece reforçar-se mesmo nos momentos de crise, em que as suas deficiências e injustiças se evidenciam mais ruidosamente. Aliás, dir-se-ia que é num quadro de falência como aquele que se vive presentemente que o sistema se impõe com maior autoridade e, com apreciável desfaçatez, se proclama como sendo a derradeira solução, o último reduto. Nesta óptica, seria legítimo defender que tais «crises» são desejadas no seio da máquina, ou até que por ela são provocadas (com o risco característico de uma aposta num jogo de sorte). Com efeito, conjunturas de aperto financeiro e económico sempre se revelaram propícias ao desenvolvimento de certas condições laborais, políticas e de mercado que estão no cerne da perpetuação da corrente Ordem das Coisas.

Órgão vital da Ordem, seu revestimento exterior - a sua pele -, a Comunicação (a palavra e a figura, a sugestão e a prestidigitação) assume um papel determinante. Numa dinâmica capitalista, todas as organizações, indiferentemente da sua missão e dos seus agentes, são forçadas a actuar de acordo com as regras do mercado, sob pena de serem aniquiladas. Mesmo que as empresas de informação e notícias não usufruíssem (logística e financeiramente, sobretudo) de uma deplorável centralização das fontes, a própria lógica que subjaz a toda a sua estrutura interna forçá-las-ia, invariavelmente, a tornarem pública (a tornarem verdade) uma versão dos acontecimentos que no mínimo possibilita, como se disse, o reforço do modo de organização social e económico actual. No máximo, poderia afirmar-se que a Comunicação é a chave-mestra deste processo; que se trata, ao fim e ao cabo, de um espectáculo burlesco à escala planetária.

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