Rejeito a guerra. É empresa necessariamente temporária e não faz sentido construir algo senão para que dure para sempre. Falam-me de um homem que morreu no dia 23 de setembro de 1938, às quatro horas da madrugada, vésperas da Segunda Guerra Mundial. Morreu após um longo coma, os últimos anos a talhar chagas sangrentas nas nádegas à força do atrito com a maca, seu exosqueleto, sua segunda coluna vertebral (a válida), onde jazia imóvel e inútil desde 1917, mercê de um obus demasiado pesado e demasiado inevitável. “Com ideias como as tuas, para que lutaste?”, perguntaram-lhe, certa vez. E ele respondeu: “Para que seja a última guerra.” E foi. O preço a pagar aceitou-o no dia em que ouviu, através da janela, os gritos dos que sobreviveram. “Viva a Paz!” Para sempre. Negou a guerra. Negou-lhe a substância. Construiu, sobre ela, algo eterno. Morreu a tempo de morrer em paz consigo.

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