Da greve dos professores ao exame de Português dos 12.º anos (em parceria - não tão 'estreita' quanto eu desejaria - com a Rita)

Quando a opinião publicada, muito afoitada às roufenhas declarações dos sindicalistas profissionais, trata de propagar a ideia de que o ME deveria ter adiado o exame de Português dos décimos-segundos anos, então quaisquer hipóteses de tirar de debaixo dos escombros alguma lógica ainda com vida ficam boamente postas de lado. Mário Nogueira, cara da FENPROF e braço da Resistência do Bigode luso, desgraçadamente em agonia nos nossos escanhoados dias, defendia a requintada tese de que os acontecimentos de ontem, nomeadamente a apresentação por parte da tutela de uma nova data para os milhares de alunos que ficaram sem realizar o exame, eram prova de como estava ao alcance do ME desde logo remarcá-lo e, assim, "evitar a confusão nas escolas". A ideia é a tal ponto absurda, de tal maneira um contra-senso, que uma palavra me preenchia a mente à medida que os microfones da rádio me faziam chegar a voz do sindicalista: perversidade. E, note-se, em doses cavalares.
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Mais difusamente, transpirou pela comunicação social a ideia de que o ME foi "arrogante" e "inflexível" e que "deveria ter cedido". Resta saber a quê. Presume-se que a um reagendamento prévio. Ou antes seria, dado tratar-se de um protesto, às reivindicações dos grevistas, essas que são as parentes pobres destes merdiáticos fenómenos? A "confusão" que inundou as escolas foi obra da mesmíssima água que já de há dias alagara todo o país, insustentável edifício construído em leito de cheia.
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Alunos, escolas & universidades na sua dimensão institucional, o chamado «pessoal não-docente», e tantos outros directamente envolvidos não tiveram, por sua vez, tempo d'antena. Ninguém os ouviu. Com efeito, ninguém se ouve. Os jornalistas, autênticos guerrilheiros da notícia, fazem a pergunta e parecem nem ter tempo para ficar a ouvir a resposta. Sindicalistas e responsáveis ministeriais multiplicam-se em conferências de imprensa e em entrevistas escritas e cantadas muitomente desesclarecedoras, feitas em exclusivo, assim se me afigura, para as órbitas vítreas das grandes objectivas das câmaras de filmar, divindade maior da adoração destes praticantes, onde porventura se maravilham com o seu próprio reflexo.
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O conteúdo, mas, acima de tudo, a forma que as estruturas sindicais vão assumindo nas suas cada vez mais frequentes aparições públicas coloca-as em pé de perfeita igualdade com as ascorosas estruturas político-partidárias, que a demo-cracia de 74 pariu e gerou, e suas congéneres empresariais, multi e nacionais do proxenetismo e da agiotagem, alhures nas profundas dos pântanos viciosos do Poder.

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