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Um libertinóide passeia por Oeiras

Arribo ao Cais do Sodré ainda tarde. Olho uma tabuleta de dígitos verdes ao cimo das escadas enrolantes. Calha-me em sorte um comboio em vias de zarpar, coisa a tardar um tudo de nada, melhor era prescindível. Hora de zarpanço: 10:20, isto posto assim aqui como posto estava lá, e com lá à tabuleta me refiro. Diz-me ainda a electrónica da dita-cuja, prestável a dar com um pau, que pelas dez e quarenta e tal estou em S. João. Porreiro, pá, nasalo eu pròs meus botões a escarnir secretamente do senhor primeiro-ministro – secretamente!, pra quê? A aparelhagem bruta de câmeras de gravar som e imagem que me persegue já desde o Campo Grande (e que me acompanhará ao longo da linha de comboio de toda a Linha no comboio e, ainda, ao regresso) mete-me nojo, dá-me gases, estou mesmo bom é pra me atirar às fuças de qualquer sócrates que me apareça à frente, algum que fosse dessa canalha da AR, desses corsários de gravata, porra! que, juro, lhes limpava o sebo! – isto tudo escapou-se-me, na fúria, em...

Exercícios d´ escrita: Alice Corinde.

I) Arrota cu desnosso país tem seguido é motivo de pré-ocupação por parte dos nossos vis inhos europeus, q prontamente se diz puseram a criar um pacote de a Judas, q nos açambarca, aliás, perdão, abarca, entroutras, matérias materiais (e imateriais) de imortais méritos (e mortais débitos) acerca dos quais, antes de mais, não devemos cagar postas de pescada: os mandantes do país português irão en carregar-se de dinheiros comunitários e discursarão com pompa e arrogância: «Portuguesas e portugueses, arrota q é boa é esta q doravante arrotearemos, tão, mas tão! bem mareados por couves de Bruxelas. Viva a União Europeida, viva Portugal». II) Ainda o xô primeiro-mandante arfa dos apoteóticos vivas e já as palmas, urros, guinchos, bandeiras esvoaçam no vazio mental da praça pudica – e circulam as coxas de frango e a imperial de joelhos enjeito de presente pra todos os presentes, à laia de cenoura pendurada à frente do asno q caminha quilómetros na ânsia de a roer, espécie de cubinho de que...

Exercícios de escrita: saramaguices.

Emborco mais um gole de chá de camomila, esse que tem fama de ser bom para estômago e intestinos, antecâmaras sequenciais e preparatórias da evacuação da merda propriamente dita, que, quer-me parecer, será a pensar nisso que uns e outros escolhem a dita infusão, já eu, valha-me deus, não tenho organismo que precise de ajudas exteriores para tratar de expulsar a bosta e, graças a deus, até defeco todos os dias, quase horas certas, caca nem muito dura nem muito líquida, sobre as cores não avanço nada, não porque as minhas fezes não as tenham, aliás bonitas cores para merda, mas porque, pela variedade de tonalidades que vão apresentando, se me tornar impossível eleger uma cor predominante, e tudo isto para dizer que este saboroso chá, se o escolhi, foi pelo seu sabor, ou pelo frio da rua, ou pelo cinzento do céu, e não porque o meu sistema cagativo fez chegar ao cérebro a reivindicação de que, acaso não recebesse apoios estranhos ao seu normal funcionamento, faria greve, não procederia à ...

Exercícios de escrita: diálogos saramagueanos.

Na esplanada da praia Olhando agora o céu azul, as fofas nuvens que espaçadamente por lá vagueiam, aquele sol que tinge a linha acima do oceano de um amarelo quente, quem diria que ontem, noite dentro, a terra foi esventrada das árvores, as telhas abandonaram as vigas e as placas dos telhados, a minha mesa do quintal dançou como uma marioneta de trezentas gramas, Ninguém, É só isso que dizes, Que mais queres que te diga, Então estive aqui a esmerar-me a escolher palavras para descrever este contraste bruto como quem escolhe e mistura tintas para pintar uma paisagem campestre e tu só me atiras um monocórdico ninguém, Querias o quê, então, Pá, sei lá, queria um bocadinho de consideração, de igualdade de tratamento, não penses que é hábito meu andar a vasculhar o dicionário da cabeça para dar ignição a uma conversa de café, Então por que o fizeste, Ora essa, porque achei que assim me tornava interessante, que te agradava, que te captava a atenção, sei lá, E que te leva a crer que não fize...