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Este café preocupa-se com a higiene da memória dos seus fregueses

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Na volta, vai-se a ver e não exagerei

Há vezes que, relendo o que por aqui escrevinho (vendo-me de fora), me julgo exagerado, ou tipo radicalóide. Esta coisa do «Diário de um índio» que entretanto arranjei elenca invariavelmente nessa categoria do exagero. Diria que é a própria linha que imaginei para o «Diário» que gera um tipo de discurso muito simplificador e abrupto, impressão aguçada pelo tamanho relativamente curto das entradas. Mas adiante. Um dos textos em que mais achei exagerar foi o "Diário de um índio: um país aos chutos nos novos Descobrimentos por terras africanas" , onde falava de uma certa analogia entre os tratamentos e arranjos políticos e históricos (ou jornalísticos) dados aos Descobrimentos e à Selecção AA. Dito assim, há que convir que é, no mínimo, rebuscado. No entanto, hoje vi a publicidade da SIC que anuncia o acompanhamento que aquela estação irá fazer do Campeonato Mundial. E então pensei, divertido: na volta, vai-se a ver e não exagerei .

Da ecologia

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Quando a ecologia é simplesmente conduto ou chamariz para reclames publicitários, senão mesmo o objecto a consumir propriamente dito, e quando a maior difusão (d´alguns) dos seus princípios é assumida pelas grandes indústrias poluidoras de sempre - indústria automóvel à cabeça, mas há outras que tais - aí temos a ecologia lenta mas tenazmente amaneirada pela Ordem, ela que é #1 na manutenção dos seus territórios. A contestação ecológica original, potencialmente ameaçadora, foi (por mérito próprio, ironicamente) convidada a entrar na roda. E, com as ganas de tanto querer mudar este mundo sujo, aceitou. A Ordem foi-lhe dizendo que Sim senhor, tens razão para dar e vender, e tratou de a difundir à grande e à francesa - convenientemente revista, claro está - com vista à sua massificação e popularização. Por esta via, as condições para a desvitalização e mercantilização da ecologia reuniam-se paulatinamente. Quando deu por ela, a vanguarda ecológica (ou o que restava dela, ou o que foi toma...

Diário de um índio: diante da Bertrand do CC Vasco da Gama

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Em última análise, mercados há só um (bem entendido, ordenado há também somente um) e todas as mercadorias têm em todas as outras as suas concorrentes directas (o que sem embargo não nega a lógica de mercados específicos para compradores específicos). É portanto sensato não esperar demasiado de lojas de livros e de música sitas em centros comerciais, uma vez que estas, não obstante a sua, por assim dizer, índole artística (mas nem por isso menos capitalizada, é bom que se diga), partilham um mesmo tecto com as cadeias de moda (apreciável locução), com as grandes lojas de electrodomésticos & tralha tecnológica diversa e, para atalhar, com tudo quanto há na praça do reino da quinquilharia e pechisbeque. Os ditâmes do negócio são claros como um urso polar e, para os que os tomam como naturais (já nem digo certos) e os seguem (ou vivem a tentar), não existe alternativa à massificação e infantilização do objecto a vender, seja ele qual for (já que o fim é o mesmo), o que, retomando o ...

Diário de um índio: armem por favor as armas do Amor

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Os vários sistemas políticos diferem, tanto quanto é possível vislumbrar cá de baixo, somente no meio de legitimar a governação de todo um Povo por um limitado número de indivíduos. Neste quadro, motes como o bem-comum, o desenvolvimento artístico ou a responsabilidade individual são - vade retro - convenientemente ignorados. Quanto ao mais, e contando as necessárias mudanças de cenário e banda-sonora, os diferentes sistemas são pouco menos que a mesmíssima bosta de cavalo. A título de exemplo, considerem-se os seus alicerces, todos eles interdependentes: desigualdade de oportunidades (no acesso ao Conhecimento e à Justiça), condicionamento dos comportamentos (através do Ensino Público e da Televisão), trabalho assalariado (na sua vertente de controlo do Quotidiano e do Consumo) e sobrepopulação (trave-mestra e garante de toda a Desigualdade).

PECMAN

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Não vejo como é possível criticar a subida de impostos anunciada ontem pelo Governo. São carradas de conceitos e definições inquinadas e enviezadas, profundamente enraizadas na comunicação social e nos meios de comunicação social, são pilhas e mais pilhas de comentadores e analistas políticos com interesses nem sempre obscuros, de farta credibilidade e astuta retórica, são montes e montanhas de agências de rating vindas não sei de onde, sabedoras das profundas do tesouro e finança nacional e plenas de imunidade na sua soberba, são «mercados» vagos e abstractos que - dizem - "nos pressionam", ou "nos sobem as taxas de juro", ou simplesmente desconfiam da nossa (?) idoneidade, são bolsas flutuantes e nunca como agora influentes na vida pública - é, enfim, uma imensa tempestade de areia que se abate sobre os nossos olhos. E nós de mãos atadas atrás das costas. Como, então, criticar a subida de impostos ontem anunciada? Não há como. Ao invés, nada mais elementar que def...

O papa desceu à cidade, lá dos altos do Vaticano, aleluia, ou Notas da visita do Bento 16

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Todo este alvoroço com a visita do Papa deixa-me confuso. Manadas de jovens de t-shirt azul com letras estampadas berram e entoam cânticos que podiam muito bem ser dirigidos a uma estrela rock ou a uma equipa de futebol. A proximidade temporal com os festejos benfiquistas esbate ainda mais as presumíveis diferenças entre um acontecimento e outro. Com efeito, ouvi ainda há coisa de uma hora um enxame de miúdos numa cantoria ensaiada lá à porta da Nunciatura que rezava assim: . "Um papa fantástico Um papa belíssimo És a nossa fé Olé, papa, olé (...) Só eu sei Porque a-credito" . E isto é verídico. De manhã, já os tinha (não os mesmos, parecidos) ouvido gritar "Paaaapa, paaaapa" (emparelhado com o típico movimento de braços que se observa nos estádios de futebol) e logo então achei notável. Quando há uma semana ou uma semana e pouco começaram a pendurar pela cidade os quilos e quilos de publicidade da visita do pontífice sumo logo me chamou a atenção o esquema visual u...