Legislativas dois mil e nove I

Pegue-se na gorda maioria de patos bravos, chicos espertos & estafermos em geral que pululam por essas fronteiras adentro e se propagam com a certeza dum vírus, e dê-se-lhes primazia sobre a demais grei, a liderança-mãe do país Portugal e o trespasse dos seus recursos vários. Atribua-se-lhes, com força de lei, com peso de chumbo, a chefia das finanças públicas e da instrução das gerações vindouras. Garanta-se-lhes, com reservas poucas e de molde a que essas poucas valham de coisa nenhuma, a palavra derradeira na tomada de decisões sobre os nãos do trabalho e do ordenamento do território e sobre os sins da arte e do desporto. Consagre-se-lhes, em despacho oficial com selo branco, o Direito à Imbecilidade, à Defesa e Prática do Erro e da Falácia, ao Usufruto do Privilégio Desmesurado e Desmerecido e à Perpetuação dos Mil Desiquilíbrios. .
E se problema de número se verificar, que se não interrompa a soberba marcha: dentre o esterco, estipulem-se graduações hierárquicas com a prodigalidade devida, directores de departamentos, directores de directores, departamentos de directores, e elejam-se representantes-mor, presidentes e presidentas, secretários-gerais e secretárias-genitais, chefes sobre chefes, com prioridade àqueles abençoados que transportem em si as doses mais generosas de bestialidade e poder embrutecedor, àqueles sob-dotados que corporizem mais notavelmente essa Estupidez da Maioria que Há que Jubilar a Qualquer Custo, e enfiar goelas abaixo, à laia de xarope, com toma prescrita, colheres de sopa e danos colaterais placidamente dissimulados no lodo engravatado dos efeitos primários.
E se, sem embargo, óbice de designações genéricas e específicas se colocar, não vá o diabo tecê-las!, que não se procrastine o desejado triunfo dos recos: bote-se-lhes rótulos e códigos de barras sem critério, deite-se-lhes cores e símbolos quanto baste, e é aconchegá-los em sedes nacionais e núcleos de aldeia, estufas de corrupção e laboratórios de retórica.
E se, com tudo isto, deus nos livre!, barreiras de comezinhas matérias de orçamento e contrato se erigirem ainda no ditoso trilho da Grã Maioria, que se não lhe obstruam os ocos intentos, que se não lhe abortem os ineptos frutos: patrocine-se-lhes, e largamente, os atavios, as ideologices e os atropelos ao bom-senso, atafulhe-se-lhes os cofres, as algibeiras e os ofechóres, e é cobri-los, tamanhos portentos, de vénias e mordomias, de água-de-rosas e pó de talco.
E, no final da linha, cereja no topo do bolo, aquiescer. Aquiescer. Como quem escarra no espelho. Sempiternamente. Numa apoteose infinita.
Uma salva de palmas.

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