Bush vs Zarqawi ?

"Escrevo sem hesitação: as bombas sobre Nagasáqui e Hiroxima foram o mais brutal acto de terrorismo da história contemporânea" - Miguel Portas, no DN de 6/08/2005.
À volta desta frase, pouco mais ou menos, João Miguel Tavares, do DN, escreveu duas meias colunas intituladas "Miguel Portas e Hiroxima I e II" (DN de 12/8/2005, pp. 5). Podemos ler, nessas magnifícas peças de jornalismo critíco, que não faz sentido algum saber se Bush é maior ou menor terrorista que Zarqawi, ridicularizando inclusivamente a dita questão - tantas vezes, pelos vistos, debatida nas "tertúlias" do BE - com um "mas é tão giro..." [falar sobre isso].
Ora bem, até certo ponto, o senhor Tavares até escreve com nexo, nomeadamente quando diz que o conceito de "terrorismo de Estado" pode ser algo de inútil, já que aos ditos actos habitualmente se aplicam outros termos, como massacre ou "genocídio", nas palavras do referido senhor. Muito bem. Quer-se com isto dizer que, dado que se usam termos diferentes, os actos são, digamos, julgados com ânimos e bitolas diferentes? Parece-me que sim. E isso não é, de maneira nenhuma, correcto. Não será esta perspectiva das coisas um reflexo das máscaras ocidentais que tanto se vendem e usam, a jeito de Oceânia versus Lestásia, de 1984? Censura-se (claro) o terrorismo e liga-se e cola-se o dito cujo ao Islão, à al-Qaeda e a todos aqueles que sejam castanhos e se chamem Abdul, Iqbal ou Husseín, ao mesmo tempo que se vangloriam actos como o perpretado pelo Enola Gay ou todos os que tenham como origem as forças da Coligação, cujos actos, na índole e na prática, são iguais aos primeiros - assim, enunciando e centrando a discussão em questões de linguística e de terminologia, como fez este senhor.
Como se pode tentar ridicularizar o debate de ideias dos mais pertinentes e fundamentais da nossa época, como é saber discernir entre o Bem e o Mal sem ser ligando o primeiro ao Ocidente ou aos EUA e o segundo ao (Médio-) Oriente, ao Eixo do Mal ou ao Islamismo?
Ver as coisas com dois olhos é algo que pouco, pouquíssimo, se tem feito. Estes senhores que escrevem em jornais com a tiragem como a do DN deviam ter consciência da realidade e da sua responsabilidade, lendo mais, pensando mais e sendo postos no lugar, que nem sempre devia ser aquele que ocupam.

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