Putice.

Já arderam centenas de milhar de héctares.
Causas naturais? Dificilmente arderia tal porção florestal por causas naturais. Mas isto não é novo. É, aliás, óbvio.
Então porque ardem tantos héctares de floresta?
A meu ver, se bem que impressionisticamente, isto deve-se (mais uma vez) aos rendimentos económicos que esta situação proporciona.
1 Desde logo, no orçamento de Estado: uma soma gradualmente mais avultada tem vindo a ser reservada ao combate aos fogos florestais e a futuros apoios às vítimas. Em relação a estes dinheiros, a verdade é que nunca sabemos o que é feito deles: primeiro, porque a aplicação do capital público é tudo menos transparente; segundo, às vítimas são prometidos apoios, mas isso raramente se concretiza; terceiro, porque não se nota que a capacidade de combate ao fogo aumente, visto que ano após ano testemunhamos a impotência dos bombeiros e as suas evidentes carências de equipamento. Esta situação, só por si má, vai sendo remediada de duas maneiras: contratação de serviços a empresas privadas, que, quer descolem, quer não, vêm o dinheiro a entrar nos seus cofres, por forças contratuais - resta saber que membros do Governo é que têm quotas nestas empresas; aprovação de financiamentos extra, como aconteceu recentemente - note-se, no entanto, a incongruência e sacanice dos nossos mandantes: como financiamento extra para apoio às vítimas e combate aos fogos, foram requeridos 2 milhões de euros; mas a verba definida para, por exemplo, financiamento das campanhas para as autárquicas ascende, só à conta do Estado, aos 45 milhões de euros, sensivelmente. Gritante.
2 A influência dos opinion leaders e dos especialistas sobre o estado de espírito da população é por demais evidente. A proliferação do espaço de antena dado a estes senhores também. Tal como acontece nos sindicatos, os opinion leaders e os especialistas, das duas, uma: ou estão, pura e simplesmente, comprados, ou então, para efeitos de progressão de carreira, dizem aquilo que os "de cima" querem ouvir. Onde pretendo chegar é ao seguinte: os referidos senhores, na sua voz de peritos e credíveis, sustentam que seja mais dinheiro gasto na aquisição de equipamento de combate ao fogo, contemplado naturalmente no orçamento de Estado - o que nos remete à jogada do ponto 1. Mais, ao fazerem isto, provocam um segundo efeito: conduzemo o povo ao argumento de que o que falta a Portugal são meios, em detrimento da verdade. Note-se a excepção que confirma a regra, na pessoa de ??????????? e leia-se o que ele tem a dizer sobre os incêndios.
3 Já não bastavam a retórica e a demagogia, os políticos que temos dão mostras de quererem mandar ainda mais areia para os nossos olhos. Está em discussão o condicionamento da transmissão de imagens televisas de incêndios. Não só isto é descarada tirania, como o argumento-base desta posição é estúpido: a transmissão das ditas imagens pode motivar possíveis incendiários! Genial. E se isto não é encobrir a verdade, o que será? E só tenta encobrir a verdade quem não quer que ela se conheça.
4 Os incendiários, grande alvo a abater - ideia de resto trabalhada diariamente nos noticiários - (abate esse que surgiria como solução para este problema), são dados a ver como desesperados, loucos ou pessoas ansiosas de protagonismo (pegando no argumento dos deputados). Só nesta "época de incêndios", que foi, note-se, anunciada como aberta como se de época de caça aos patos se tratasse, foram levados a interrogatório e detidos cerca de 170 indivíduos. Isto foi inclusivamente anunciado nos media, com duplo objectivo, à semelhança de outros movimentos: reforçar a ideia de que a solução se encontra ao extinguir essa odiosa espécie de homem; mostrar que o Governo, pela mão da também nebulosa Polícia, está a combater o problem. Então e em relação à motivação dos suspeitos, já foi apurada alguma coisa? Do tipo de serem pagos por certos senhores para pegarem fogo a uma área restrita? Talvez isso já não convenha investigar. De qualquer modo, a partir do momento que sabemos serem detidos os suspeitos, já não somos informados de mais nada, quero eu dizer, se foram castigados realmente ou não. Mais, são inúmeros e do conhecimento público locais onde foram construídos empreendimentos turísticos ou de habitação, cujos terrenos, que coincidência!, foram adquiridos a preço de saldo devido à devastação provocada por um anterior incêndio. E se isto não é ilegal nem prova nada, o facto de esses mesmos empreendimentos serem erguidos, por meio de autorizações especiais, ainda antes dos prazos legais impostos em caso de fogo serem cumpridos, pesa alguma coisa.
DAÍ dizer que isto é uma putice: os nossos mandantes vendem o cú, quero dizer, os princípios e as responsabilidades, a troco de dinheiro, tachos e benesses. Repito: são todos umas putas; melhor: são piores que putas, porque estes senhores ainda passam por idóneos, desde que fiquem um tempinho escondidos nos bastidores.
Viva a democracia.

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