[Também quero! falar da] TLEBS

Glossário prático:

TLEBS - Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (http://www.dgidc.min-edu.pt/TLEBS/terminologia.asp); "(...) é um dicionário que qualquer pessoa pode ter no seu computador [através do sítio oficial] e resulta de um trabalho de nove anos que envolveu 15.000 professores de Português (...)*".


Texto:

Como s´intenta demonstrar no título que encabeça este post, já muito se falou, e em poucos dias, da TLEBS. Esta terminologia oficial vem substituir uma versão que vigorou 22 anos, desde 1984 (ano de bela colheita, tomo a liberdade d´acrescentar), e, como todas as acções do Ministério da Educação (ME), tem sido atacada vigorosamente por diversas vozes, de maior ou menor destaque da nossa sociedade. Sem embargo, note-se que têm também vindo a público opiniões favoráveis e defensoras das medidas inerentes a esta revisão - de modo que se tem gerado na imprensa escrita uma discussão ligeira à volta deste assunto.

Dum lado: há os que protestam contra o "esmiuçar [excessivamente] complexo" das distinções linguísticas e contra a "algo ridícula parafernália de termos" (E. Prado Coelho - PÚBLICO, 17/11/2006); os que alertam para a confusão e inoperância das inúmeras designações morfo-sintácticas agora impostas a docentes e discentes, agravada pela aparente e alegada omissão de outras basilares, como "género" (Helena Matos - PÚBLICO, 11/11/2006); os que a classificam de "ôca, despropositada (...) [que não serve] para mais nada a não ser mudar os nomes às coisas" (Lopes Ferreira - PÚBLICO, 17/11/2006); os que apontam até a própria dificuldade dos professores em compreenderem por dentro a nova terminologia (V. Graça Moura - DN, 15/11/2006) - entre, certamente, outras.

Doutro: os que argumentam que esta terminologia é fruto do consenso obtido entre os milhares de professores que contribuiram para a sua feitura e que a "esmagadora maioria" dos termos lá descritos são "velhos conhecidos, como os adjectivos, advérbios, pronomes, proposições, etc." (Helena Soares - PÚBLICO, 17/11/2006); os que defendem que a TLEBS "introduz termos relevantes para fazer distinções cruciais para uma boa descrição do funcionamento da língua portuguesa" (João Costa - PÚBLICO, 12/11/2006); e por aí adiante.

Este episódio ocorre em três contextos simultâneos e só academicamente distintos: por ordem de grandeza: i) anos e anos, digamos, três décadas, de má educação em Portugal - quer seja nas políticas e estratégias desenvolvidas, na formação de professores, na estrutura da família, no estado social, ...; ii) semanas e semanas, digamos, um ano, de conflitos entre ME e professores, alunos e funcionários - quer seja por divergências relativas a estatutos de carreiras, a aulas de substituição, ataques de índoles mais ou menos reles, ...; iii) caracteres e caracteres de contraditório (saudável e elucidativo, aliás) - quer seja por questões de fundo pertinentes, como, p. ex., qual a meta final que deve orientar o ensino (do) português, quer seja por questíunculas pedantes, como, p. ex., que TLEBS deveria ter sido grafado com pontos a separar as capitais, porque a gramática não se rege por acrónimos (o que, diga-se, dá razão aos que afirmam que se acumulam as tentativas de encontrar bizarrias no documento).

Posto tudo isto - que me parece que é suficiente para lançar as bases para o desenvolvimento de uma visão crítica e pessoal e para um ulterior e essencial debate - gostaria de fazer uma pergunta, que s´aplica não somente a esta situação em particular, mas também à generalidade das questões que concernem à vida pública presente e futura do nosso país: i) porque não foi lançado um debate prévio à publicação deste dicionário (Vivemos em democracia.)? ii) seria desadequado referendar um tema como este (Vivemos em democracia.)?

Adaptando uma frase que surge no Editorial do PÚBLICO d´hoje: "(...) sem que estas sejam discutidas [políticas e linhas de rumo], o país continuará a ser mais guiado pelas contingências do que por escolhas racionais" (José M. Fernandes). iii) e que rumo quereremos para a educação de Portugal (Vivemos em democracia.)?


No seguimento, e na encruzilhada, destas matérias, gostaria de lançar para uma possível discussão mais alguns dados - ainda da profícua edição d´hoje do PÚBLICO (qu´até parece que o estou a promover!) - o Português foi reconhecido como o terceiro idioma europeu de comunicação universal (ou third european world language), em resolução do Parlamento Europeu, já no longínquo Abril de 2003. A propósito disto, e pelo seu aparentemente importante papel neste "êxito" da língua portuguesa, Ribeiro e Castro (que também é eurodeputado) sustenta a obrigatoriedade de levarmos a sério este "desafio", sob pena de perdermos ("Quem? Nós? Nós quem?!"), daqui por uns anos, num contexto de "multilinguismo" no seio da UE, o considerável valor da língua de Camões, esse póstumo marco da nossa pátria. Diz o presidente do CDS-PP que "quando citamos Pessoa a dizer que "a minha Pátria é a Língua Portuguesa", devemos intuir sobre a dimensão de desastre em que nos apagamos, ao ignorá-la". Eu concordo plenamente com ele.

Voltando ao que atrás foi dito relativamente à TLEBS e ao que essa questão implica em termos mais gerais - iv) será que tem sido predominante uma atitude contrária a este desastroso apagão que Ribeiro e Castro parece recear, nomeadamente da parte da população anónima (Vivemos em democracia)?


Para terminar de forma leve, proponho uma canção: "I believe the children are our future Teach them well and let them lead the way ..."





* Helena Soares, Doutoranda de Linguística Portuguesa, Lisboa - Cartas ao Director, PÚBLICO, 17/11/2006

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