(sem título, porque há alturas na vida de um gajo que não vale a pena)

Senão vejamos: as ideologias supranacionais que nos governam aos diferentes níveis do, 1) colectivo, e 2) íntimo, e que têm em cada executivo nacional o seu núncio de serviço, berram alto e bom som, com a pujança dos evangelhos: FORNICAI E MULTIPLICAI-VOS.
.

O amontoar de gente dá um jeito dos diabos, seja para dar azo aos caprichos burocráticos e legislativos das administrações públicas, seja para desencorajar o sentido crítico & a espontaneidade, seja ainda para enquadrar e até tornar necessárias barbaridades como o trabalho assalariado, os impostos ou a escolaridade obrigatória. Gente com fartura conduz à centralização, a centralização homogeniza e fabrica anonimato, o anonimato dos homogeneizados dá à luz a crítica má (coitadinhos, não têm culpa) e a crítica má dá cabo da crítica boa. Finalmente, por sua vez, sobre os escombros da crítica boa, erguem-se viçosos os democráticos governos democráticos. Forniquem mais, dizem eles.
E logo vem a Estatística. A, chamemos-lhe assim, «ditadura da Média». Atribui-se um valor médio a tudo quanto é coisa. À pobreza, à satisfação, à instrução, ao sexo. Diz-se que pobreza é 249, que satisfação está a % 45, que instrução é 9,5 e que o sexo, esse, 3/7. Todas estas mérdias juntas fazem um muro (no nosso horizonte). Levantam esta grande muralha os "técnicos" e os "especialistas", pessoal do mais desinteressado que se encontra por aí, sentimental e financeiramente imune a qualquer pressão ou desvio, homens e mulheres que, benza-os deus, pertencem (ainda que meio bastardamente) ao sacrossanto Reino da Ciência: são os missionários da Palavra divina dos nossos dias. E logo diz o primeiro dos ministros, a propósito, por ex., da instrução:
"- Caros e prezados, segundo dados do último trimestre, temos % 51 de 9,5 (estalam os primeiros aplausos) pelo que, com a inexpugnável certeza dos Números, posso, orgulhosa e patrioticamente, afirmar aqui, perante vocelências, que (crepita a emoção no auditório) a instrução está boa e recomenda-se!" (rebentam os vivas, voam as cartolas)
E por aí fora, enfim.
Quanto ao mais, há que convir que as mérdias enganam.
"- Sim, enganam. (pausa) Mas, numa multidão de multidões, que alternativa nos resta? Sobretudo uma que seja tão prática, tão conveniente, tão incontestável, tão, numa palavra, objectiva. Convenhamos: não há outra como Ela! Três vivas à Média! (findas as vivas, retomado o silêncio amestrado, pausa longa) A Média, eis tudo, faz o país avançar. E, com o país, as pessoas. Com as pessoas, a Vida. Com a Vida, a Morte. E, com a Morte, os Governos, as Economias, os Mercados!" (vuvuzelas)
..

Mensagens populares deste blogue

Algo de errado se passa.

Desencontro, ou Enquanto as ervilhas cozem

Os números COVID-19: ou latos em excesso, ou inconsistentes, ou pouco consolidados