Do turismo
Aqui há dias, numa dessas manhãs carregadas de ameaçadoras nuvens cinzentas que, até pela altura do ano, tanto nos contrariaram, observei o que segue: na passadeira que fica ao fundo da calçadinha que desce da saída da estação de metro da Baixa-Chiado (perdoe-se-me a atabalhoada descrição), calhou ter lá parado, a obstruir a passagem, um autocarro de turismo, desses que trazem de série uma guia-intérprete com o ar mais enfastiado do mundo encastrada no lugar do pendura. Os peões, que já seguiam rabugentos para mais um dia de trabalho, mais rabugentos ficaram e como que explodiram de fúria com o motorista, que insultaram generosamente. Lá do alto, no primeiro andar do veículo, os turistas testemunhavam incrédulos a cena, não sem um certo trejeito de desilusão. Afinal de contas, onde estava a cidade soalheira e de gente descontraída que eles tinham comprado no balcão da agência do seu país de origem?