Bem, Mal, História Relativizada e profundíssima análise de aparentes evidências que evidentemente aparentam evidenciar, ou aparentar

"Tenham como certo e bem seguro quanto lhes digo, todos os demonstradores de mal do século são uns intrujões que nos guardam na despensa um remédio enfrascado, remédio este que em nossa intenção será posto à venda, em troca de boa maquia, quando cairmos na parvoíce do susto horrorizado ante a sujeira que é a nossa língua. Um remédio como a religião, o trabalho ou o pasmo das multidões. É um simples problema de encenação, não uma ideia."
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Hipótese nada risível, esta de não haver males (isto sou eu a subir os degraus de par em par). É ler Camus, ou as resenhas cinéfolas de André Bazin, ou etc., e pensar que, feitas as contas, isso de Bem e Mal são apêndices e sufixos socio-culturais e comerciais que, à luz da História Relativizada (a mais bela área de estudos que nunca foi), são úteis e estimáveis como as missas cantadas do Dom José Policarpo ou a Comissão parlamentar de Ética ao caso PT-TVI. Isto é, sempre há quem as ache úteis e estimáveis.
A alternativa, de resto, não é rebuscada. Antes pelo contrário. Antes de serem "boas" ou "más", as coisas e as pessoas são. Só isto tudo: ser. Aparentando justamente o contrário, o Bem e o Mal chegam sempre tarde e más horas, chegam sempre depois.
Por outro lado, há uma evidente aparência de evidência, senão mesmo uma evidente evidência: os males existem. Mais não seja para justificar a igualmente evidentemente aparente existência de remédios. Simultaneamente, afigura-se-me evidente a aparente evidência de que não há tal coisa como remédios. É, aliás, evidente: como existiriam males se existissem remédios?
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Para que conste, o filete de pescada que, entre aspas, deu o mote a mais este solilóquio, foi sacado do Tratado do Estilo, de Aragon, páginas oitenta.

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