Vagueações

Para poupar o dinheiro do bilhete do metropolitano andei a pé o dia inteiro. Recordo-me de me ter deparado em todas as ruas com os mesmos dois painéis publicitários, repetidos insanemente. Num deles uma mulher espantosamente bonita sorria para promover um desodorizante, noutro uma mulher espantosamente bonita sorria para promover um telefone móvel. Recordo-me igualmente de a certa altura ter notado, olhando em redor, que todas as mulheres eram espantosamente bonitas. Acho que pensei Que andarão estas a promover? Mas então principiei a aperceber-me de que havia também muitas mulheres espantosamente feias. Tomara por uma série de ruas paralelas onde poucas pessoas se deixavam ver e onde imperavam prédios há muito esquecidos. Imaginei comigo que estas ruas eram as mesmas que antes percorrera, mas no futuro, como se equipado somente com o meu inestimável par de ténis verdes houvera atravessado um vórtice temporal perdido nalguma dessas infinitas esquinas que dobrara. Imaginei que estas pessoas e estes prédios eram os mesmos que antes vira nas avenidas largas e movimentadas onde dentro e fora dos painéis publicitários as mulheres se promoviam. Afiguravam-se-me - estas paralelas ruas - como o Lado B ou os derradeiros capítulos do que se ouvia e lia nas ruidosas, palavrosas avenidas do centro.

Mensagens populares deste blogue

Algo de errado se passa.

Desencontro, ou Enquanto as ervilhas cozem

Os números COVID-19: ou latos em excesso, ou inconsistentes, ou pouco consolidados