Anúncio da renovação do Estado de Emergência

Ouvimos há pouco, em directo, pelas ondas da rádio, o Presidente da República. Ouvimo-lo na cozinha, à mesa de jantar. O rádio da cozinha é um aparelho pequeno, analógico, sujeito às flutuações electromagnéticas e propenso aos caprichos do éter. Tem uma antena curta e um botão de sintonização tosco. Raras são as vezes que apanhamos a Antena 1 impecavelmente e dia sim, dia não, temos de a re-sintonizar. A voz de Marcelo chegou-nos com aquelas interferências hertzianas que conferem à rádio tanto do seu encanto. A exclusividade da voz, a ausência do ruído visual do aparato protocolar e da esquizofrenia dos ecrãs televisivos, mas também o chão frio da cozinha, a luz crua da cozinha, o tampo da mesa da cozinha onde tínhamos as mãos, tudo concorreu para a inusitada solenidade do momento.

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